Setores da direita têm alertado a respeito de um suposto “globalismo marxista”, que seria uma tentativa de eliminar o nacionalismo, estabelecendo um governo global de esquerda, baseado em um “marxismo cultural”. Entrevistado pela BBC em fevereiro de 2019, o linguista belga Jan Blommaert afirmou que o “globalismo” é um termo “vago, e isso faz parte de uma estratégia do discurso político”.
Na verdade, o que existiu e existe, de fato, é a globalização. Ela ganhou força por volta de 1990, com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. Se antes daquele ano havia uma divisão polarizada entre capitalismo e socialismo, a partir da década de 90 haveria um mundo globalizado em torno do capitalismo. Tanto que países de tradição marxista, como China e Rússia, adotaram muitos dos aspectos capitalistas.
O fim da Guerra Fria teria significado a derrota da esquerda, e o início de uma globalização de direita. Tanto é verdade que a esquerda latino-americana, após a Guerra Fria, procurou responder a essa globalização capitalista, no sentido de valorizar aspectos locais.
Se o predomínio do capitalismo foi anunciado com o fim da União Soviética, vale dizer que, em 2008, iniciou a crise do capitalismo norte-americano. Nos Estados Unidos, a participação do Estado na economia conquistou espaço no governo de Obama, na tentativa de recuperar a economia, com uma pauta social-democrata. Quando Trump assumiu, ele procurou adotar um foco nacionalista, mas também capitalista.
É difícil frear a globalização, na medida em que é um fenômeno econômico (capitalista), mas também um movimento cultural, influenciado fortemente pela internet e sua capacidade de aproximar as pessoas. O que acontece em países como Estados Unidos e o Brasil, é a dicotomia entre uma direita nacionalista, que pretende aprofundar ainda mais o capitalismo, e uma esquerda social-democrata, que busca uma suavização do capitalismo. No Brasil, a eleição deste ano colocará essa dicotomia em evidência.