Paixão, amor, carinho. Seja qual denominação se dá, independentemente do idioma, nacionalidade, espaço geográfico, é interessante pensar em como esses sentimentos nos movem, preenchem e também deixam um vazio quando se esvaem pelos nossos dedos. A paixão parece ser como uma grande febre que nos acomete, de forma súbita em cada canto de nosso corpo. É uma febre ardente, mas não chega a queimar, nos fazendo sentir vivos e impossibilitando outros sentimentos. Nos impede de enxergar algo que não seja a pessoa amada.
Assim como a paixão, que acontece de forma repentina e nos entorpece, o desamor também lembra uma febre. Estamos livres ou presos a partir desse ponto?
Entretanto, é preciso dizer que os sintomas são opostos. O desamor não parece passar, são meses de uma profunda demora. Mais parece um estágio prolongado de tristeza, onde estamos divididos entre os questionamentos e reflexões que preenchem cada momento de lamúria. Nada faz sentido. Os sentidos como paladar, olfato não correspondem, buscando sentir os mesmos cheiros e sons que despertam saudosismos. Os dias e as noites se repetem, assim como os momentos vividos e ao passado reproduzido em exaustão.
Somos livres, mas nos sentimos presos.
A partir desse ponto, não é preciso dizer que o amor não faz sentido. Como é possível que em uma troca de olhares uma pessoa se sinta predestinado a ficar com a outra? Como o toque de alguém pode afetar tanto o seu organismo? Como o simples nome de uma pessoa pode te dar calafrios? Como os céticos explicam o fato de o amor ser transmissível pelo olhar ou toque? Como os cientistas explicam relacionamentos a distância, em geografias diversas? Talvez os casamentos possam aprender com esses relacionamentos. Não há nada mais triste do que pessoas que vivem juntas, ao mesmo tempo em que convivem apartadas uma da outra.
Não fazem nem sexo, nem amor, mas fazem muito silêncio, o que diz o suficiente sobre ambos. São ilhas, tão próximas e tão distantes umas das outras. O que mostra que, para o amor, a distância é um mero detalhe geográfico.
Não que os silêncios sejam ruins. O silêncio dos amantes apaixonados é carregado da sensação de estar embriagado. Não se dorme, não se fala ou pensa sobre outra coisa que não seja o seu objeto de desejo. Enquanto entre os apaixonados há prazer e felicidade no silêncio que ocupa o espaço das palavras não ditas, entre aqueles que sofrem por amor o silêncio traz diversos significados e nenhum conforto. A falta do que dizer, a ausência das palavras trocadas vai sufocando ao ponto de ocupar o espaço que deveria ser das discussões, dos debates acalorados, das declarações de amor, arrependimentos e pedidos de desculpas.
Marçal Aquino escreveu de forma arrebatadora e poética em “Eu Receberia As Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” algo que nunca esqueci. Disse ele, em sua prosa: Em seu livro, o professor Schianberg escreveu: “A grande desgraça é que as lembranças não bastam para confortar os amantes. Nunca aplacam. Ao contrário: servem só para espicaçar as chagas daqueles que foram condenados à lepra do amor não correspondido”.
A esperança é o pior dos venenos, condenando homens e mulheres, jovens e velhos, de todas as classes sociais, nacionalidades e lugares do planeta. O amor é uma droga, uma febre, e ao mesmo tempo o que mais nós perseguimos enquanto espécie durante essa experiência humana.
Se há algum sentido no amor é que ele seja sentido. Não a sós, mas compartilhado. Livres, sem a sensação de estarmos presos. Acompanhados sempre da paixão, de preferência.