Já diziam os sábios que ninguém morre de tédio no Brasil. Até é difícil resumir o que acontece em uma única semana, tamanha a velocidade dos acontecimentos e fatos. Entretanto, como tudo se conecta, vou tentar explicar aqui. Só essa semana tivemos o 17º ensaio da terceira via com Moro candidato, a filiação de Bolsonaro em um partido do Centrão, ao mesmo tempo em que foi lançado o Auxílio Brasil. Para finalizar, a carne bovina brasileira sofre embargo, mas os preços seguem altos e os pratos continuam vazios. É muita coisa mesmo.
Vamos começar pelo ex-juiz Sergio Moro que negou veementemente por diversas ocasiões que entraria para a política. Pois bem, nessa semana ele filiou-se ao Podemos para lançar a sua candidatura à presidência da República. Não que não soubéssemos da veia política do ex-juiz acusador. Só em uma democracia mequetrefe como a brasileira um juiz condena o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais e se torna ministro quando o seu oponente vence. Caso essa situação ocorresse em Cuba, Venezuela, Nicarágua ou qualquer local que desperta o asco dos liberaloides brasileiros, isso estaria sendo discutido em todas as capas de jornais, programas de TV como um grande escândalo. Sorte que a régua tupiniquim só mede o que é ruim quando aponta para a esquerda.
Para finalizar: Moro quer ser a Terceira Via, afinal, não quer dizer que por ter sido ministro de Jair que seja igual a ele. Como quase todos os outros candidatos da terceira via que se dizem diferentes de Bolsonaro mesmo tendo apoiado, feito campanha ou ainda participado do governo, sendo ministros ou de partidos que votam com o governo federal na Câmara dos Deputados. Força, Terceira Via! Eu acredito!
Por falar nele, Bolsonaro, aquele que acabaria com a corrupção, acabou de se filiar em um partido presidido por ninguém menos do que o ex-mensaleiro Valdemar Costa Neto. Neto foi citado no caso Mensalão e em outros escândalos. Antigamente era Mensalão, hoje tem um nome pomposo: orçamento secreto. A diferença? O partido, é claro, e o orçamento: hoje ele é muito, mas muito maior mesmo. Porém, como não é o PT envolvido, você não verá isso nas manchetes ou nas principais capas de revistas, como Veja, IstoÉ e Época.
Ao mesmo tempo em que compra o Centrão com emendas parlamentares com a ajuda de Arthur Lira, Bolsonaro tenta acabar com um legado dos governos petistas para conseguir a sua tão sonhada reeleição. Por incrível que pareça, Bolsonaro está destruindo o Bolsa Família, um programa que foi debatido, planejado e construído por diversos setores da sociedade, envolvendo sociólogos, cientistas políticos, lideranças e movimentos sociais para substituí-lo pelo Auxílio Brasil, com a sua cara e marca. Com a retórica da preocupação com os mais pobres, decide fingir que tem algum constrangimento em ver gente com fome. Para isso, vale até mesmo dar calote, não é mesmo?
E se o povo está passando fome, em situação de insegurança familiar, cortando a carne e uma série de alimentos imprescindíveis da cesta básica, essa não parece ser a preocupação do agronegócio. Com o embargo da China, as exportações da carne brasileira caíram 43%. Diante da negativa do nosso maior parceiro comercial, não seria a hora de pensar no mercado interno? Para o agronegócio não, que decidiu esperar o embargo sair. Que se dane se o povo passa fome, não come mais carne ou ainda precisa recorrer aos restos e ossos. O agro é pop.
Escrevo tudo isso para dizer que todos esses atores estão vinculados uns aos outros. Todos têm um grau de responsabilidade naquilo que estamos vivendo. De tédio, ninguém morre no Brasil. Já de fome, de descaso, de desigualdade social, é possível sim. Mas para Moro, Bolsonaro, Arthur Lira, seus apoiadores, e o agronegócio, esse é um problema seu.