Estamos vivendo os efeitos colaterais de uma Nação que ainda não conseguiu vencer seu passado autoritário. O atual governo federal loteou uma grande quantidade de cargos com militares, tanto da ativa como da reserva, e temos assistido de tempos em tempos arroubos autoritários, seja do próprio alcaide mor, no caso o presidente da República, ou então de seus subordinados de plantão.
Na semana que passou, o ministro da Defesa, general Braga Neto, teria mandado um recado ao presidente da Câmara dos Deputados, de que a eleição do ano que vem estaria condicionada ao voto impresso. Logo após a divulgação da notícia, vários foram os desmentidos, mas, como não é segredo para ninguém, o próprio presidente várias vezes em suas falas atabalhoadas no cercadinho já disse algo muito parecido. Ou seja, há a clara intenção de criar um argumento para atrapalhar o regular processo eleitoral do ano que vem.
Senão, vejamos, qual a garantia que a impressão do voto possa dar a veracidade ou não do ato de votar do eleitor, se o mesmo poderá mentir, dizendo que o voto que digitou não condiz com o que foi impresso. Daí será necessário, num passo subsequente, se exigir a gravação em vídeo do voto, para eventual conferência do voto, o que sepultaria o sigilo imprescindível ao sufrágio. Ou seja, não há solução para aqueles que não confiam no sistema.
Mas no fundo, acredito que os brasileiros já entenderam que a intenção do chefe do Executivo é fazer experimentos verborrágicos, na lógica do “se colar, colou”, apostando na lógica de que as instituições possam não estar atentas aos seus movimentos, e assim, criar as condições de temperatura e pressão para uma ruptura institucional.
Tenho para mim, frente às manifestações de membros do STF, do Congresso Nacional e das próprias Forças Armadas, que as intenções do presidente não encontram eco nas instituições que a duras penas foram forjadas desde a Constituição de 1988. Por isso, os flertes autoritários não encontrarão solo fértil para um eventual golpe de Estado.