Em recente escavação para a construção de um prédio no Japão, foram encontrados restos de uma canoa e, dentro dela, um pote com sementes. Investigações revelaram a idade: dois mil anos. Um agrônomo resolveu semear estas sementes e qual não foi a surpresa: elas germinaram e brotou uma linda flor vermelha, cuja fotografia foi publicada em revistas científicas do mundo inteiro. Qual é o milagre que explica a germinação de uma semente guardada durante vinte séculos?
Fico pensando no milagre da vida e na energia que habita na natureza e nas pessoas. Imaginem: sementes guardadas durante vinte séculos germinarem e brotar uma linda flor! Imaginem então a energia e a vida que jazem adormecidas nas pessoas que, às vezes, as circunstâncias da vida engessaram e abortaram…
Fico pensando – sabe! – por que é tão difícil que uma flor floresça dentro da gente, e a primavera não é convidada a entrar no mundo interior das pessoas? Por que nos tornamos tão racionais, tão teóricos, tão cheios de fórmulas, de regras, de etiquetas, e perdemos a espontaneidade de crianças?
Oh! meu Deus, onde foi que deixamos este mundo tão lindo e que nos faz tanta falta? Sem ele, não somos capazes de ter ouvidos para ouvir e entender estrelas! Oh! poeta, bem que nos alertaste!
Pois este mundo não é do outro mundo, mas habita na criança, porque ela elabora o mundo através do sonho e, quando ela aprende a falar, as palavras lhe dão asas.
Rubem Alves nos diz que “ao aprender a usar as palavras, começamos a voar por espaços infinitos, como a borboleta, que se torna borboLETRA”.
Palavras, coisas etéreas e fracas, meros sons. No entanto, é delas que o nosso corpo é feito. O corpo é a carne e o sangue metamorfoseados pelas palavras que aí moram. Os poetas sagrados sabiam disto e disseram que a Palavra se fez carne: um ser leve que voa por espaços distantes, por vezes mundos que não existem, pelo poder do pensamento.