Início Esportes A histórica final estadual entre santa-cruzenses

A histórica final estadual entre santa-cruzenses

Vitória da Pony/Corinthians sobre o Mauá/Ping Pong marcou último título de Ary Vidal no comando do tricolor

Tiago Garcia
[email protected]

Pony/Corinthians e Mauá Ping Pong disputaram final do estadual no Ginásio Poliesportivo. – Foto: Acervo/Jeferson Gerhardt

A conquista do título da Liga Nacional de 1994 pela Pitt/Corinthians rendeu homenagens para Ary Vidal e seus comandados. No dia 19 de abril, dois dias depois da conquista, o técnico foi agraciado com o título de cidadão santa-cruzense, o diretor Romário Haas recebeu o mérito desportivo e os jogadores campeões foram homenageados pela Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Sul. Após, a equipe campeã de 94 viajou para Lima, no Peru, onde disputou o Campeonato Sul-Americano de Clubes pela primeira vez, com o tricolor finalizando a competição em terceiro lugar. Com o time remodelado para a temporada 94/95, a Pitt/Corinthians disputou amistosos, o Torneio Internacional da Oktoberfest, em que foi vice-campeão, e a Copa América de Clubes na Argentina, com os santa-cruzenses obtendo novamente o terceiro lugar.

Com a saída de Ary Vidal, que aceitou convite para ser técnico da Seleção Brasileira, o Corinthians passou a ser comandado por Waldir Boccardo. Nos estaduais, o tricolor manteve a hegemonia. Após quatro finais consecutivas contra a Sogipa, o time comandado por Boccardo enfrentou a Sociedade Ginástica, de Novo Hamburgo, para decidir o título de 94, com a decisão ocorrendo em dois jogos disputados em janeiro de 95. O empresário santa-cruzense Marcelo Denizar Martin atuava na Ginástica e lembra que a equipe de Novo Hamburgo foi formada com jogadores experientes de Porto Alegre e jovens de Santa Cruz. “No primeiro jogo, em Novo Hamburgo, perdemos por quatro pontos em partida decidida por Rodolfo e João Batista no final”, lembra Marcelo sobre a vitória corintiana por 97×93. No segundo jogo, disputado no Poliesportivo, o Corinthians sagrou-se pentacampeão estadual ao vencer a Ginástica por 120×92. O time campeão estadual em 94 foi formado com Rodolfo, João Batista, Todd Willians, Cruxen, Macetão, Alexandre, Pohl, Alemão, Rui e Magrão. Após, na Liga Nacional, a equipe santa-cruzense não conseguiu repetir o desempenho do ano anterior e acabou sendo eliminada para Rio Claro nas quartas de final, com a equipe paulista sagrando-se a campeã nacional de 95.

Após obter o terceiro lugar nos pré-olímpico disputado na Argentina, resultado que garantiu ao Brasil a participação nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, o técnico Ary Vidal reassumiu o comando da Pony/Corinthians, nova parceira, que fez um alto investimento para o tricolor seguir em condições de vencer o nacional. No estadual de 95, que foi decidido em janeiro de 96, a Pony/Corinthians enfrentou o Minuano/Bira, de Lajeado, na decisão. No primeiro jogo, em Lajeado, a Pony/Corinthians venceu por 81×52. Na decisão, disputada no Poliesportivo, o tricolor se impôs e derrotou os lajeadenses por 121 a 90 para conquistar o hexa estadual. O time hexacampeão foi formado com Mutti, Macetão, João Batista, Pipoca, Alemão, Márcio, Marc Brown, Alvin, Josuel, Magrão, Big e Durval. Na Liga Nacional, o time da Pony/Corinthians chegou até a final contra o Corinthians/Amway, de São Paulo, que tinha Oscar Schimidt no plantel. Na decisão, disputada em Santa Cruz e São Paulo, os paulistas foram superiores e venceram a série por 3 a 1, com os santa-cruzenses obtendo o vice-campeonato nacional.

Hepta estadual

Para a temporada 96/97, a Pony renovou a parceria com o Corinthians e manteve o alto investimento da equipe. Em meio à disputa da Liga Nacional, a Pony/Corinthians aguardou o adversário na final do Campeonato Estadual de 1996, que foi decidido em janeiro de 1997. Quis o destino que o último título da Era Ary Vidal fosse conquistado em uma final estadual envolvendo Corinthians e Colégio Mauá/Ping Pong, sendo a primeira e única vez que duas equipes de Santa Cruz do Sul se enfrentaram em uma decisão estadual de basquete adulto masculino.

Em 96, o estadual voltou a ter um número expressivo de equipes. Naquele ano, o regulamento determinou que a Pony/Corinthians disputaria apenas a final. As outras oito equipes participantes foram divididas em dois grupos de quatro times, em que os dois melhores de cada grupo avançaram para as semifinais e os vencedores disputavam a final, com o campeão recebendo o direito de enfrentar a Pony/Corinthians na decisão do estadual.

Armador do Mauá/Ping Pong, Jeferson Gerhardt confirma que foi a primeira vez na história que Santa Cruz do Sul contou com quatro equipes no estadual adulto de basquete. Ele destaca que além do Corinthians, o Município teve a participação das equipes do Mauá/Ping Pong, Sagrado Coração de Jesus e Data Mask/Stefens Veículos/Master Esportes, que surgiram com o objetivo de jovens atletas de Santa Cruz terem mais espaço para jogarem em nível adulto representando a cidade no estadual de basquete. “Como não tínhamos espaço no Corinthians, muitos saíram para jogar por outras cidades e naquele ano se decidiu jogar representando Santa Cruz e abrir novos espaços para a prática da modalidade na cidade”, contou o ex-jogador.

Gerhardt lembra que ele, Marcelo Denizar Martin e Márcio Lauschner apresentaram o projeto de montar uma equipe adulta do Mauá, ideia que foi aceita pela direção do educandário. Ele também citou o apoio do ex-prefeito Telmo Kirst (IM) na busca de patrocinadores, sendo Kirst o responsável por viabilizar a parceria com a empresa Ping Pong para apoiar a jovem equipe do educandário santa-cruzense. “O time tinha seu próprio orçamento e o Colégio Mauá colocava a sua estrutura à disposição da equipe. Buscamos o Reginaldo Soares para ser o treinador e iniciamos o projeto, que no primeiro ano foi muito além da expectativa”, conta Gerhardt.

No estadual de 96, o grupo A foi formado com Sogipa, Osório, Data Mask/Stefens Veículos/Master Esportes (Santa Cruz) e Sagrado Coração de Jesus (Santa Cruz), e a chave B com Ijuí, Rio Branco (Cachoeira do Sul), Gaúcho (Santo Ângelo) e Mauá/Ping Pong (Santa Cruz do Sul), com as equipes se enfrentando em quadrangulares disputados em sede única na primeira fase. Nas semifinais, em melhor de dois jogos, se enfrentaram Mauá x Sagrado Coração de Jesus e Sogipa x Ijuí. No confronto santa-cruzense pela semifinal, o Mauá venceu o Sagrado Coração de Jesus, nos dois jogos. Na final, a equipe santa-cruzense enfrentou a Sogipa e venceu a tradicional equipe porto-alegrense por 74 a 73, em Porto Alegre, e por 78 a 75, em Santa Cruz do Sul. “Vencemos a Sogipa com jogadores experientes em dois jogos muito difíceis, sendo ambos decididos no detalhe a nosso favor”, conta Gerhardt.

Técnico da equipe, Reginaldo Soares lembra que o time atingiu o objetivo com muita dedicação. “Santa Cruz sempre foi um celeiro de atletas. Tivemos uma disputa acirrada e com bons jogos naquele ano”, lembra o técnico do Mauá/ Ping Pong.

FINAL

A final do estadual entre Pony/Corinthians x Mauá/Ping Pong foi disputada em jogo único, no dia 15 de janeiro de 1997, no Ginásio Poliesportivo, que recebeu um grande público para acompanhar o embate entre os dois clubes santa-cruzenses. Com amplo favoritismo para conquistar o hepta, o Corinthians já era apontado como campeão de forma antecipada pela qualidade da equipe que havia feito um grande investimento para disputar a Liga Nacional. Soares lembra como fato marcante da final a participação da torcida. “Foi muito legal. Não tinha uma torcida contra ou a favor e sim uma torcida que foi acompanhar o jogo. Conseguimos fazer um confronto equilibrado e conseguimos ser competitivos contra eles. Para Santa Cruz não poderia ter final melhor”, destaca o treinador.

Gerhardt conta que o Mauá fez um pacto de não se derrotado por mais de 100 pontos na final. “Foi a final dos profissionais contra atletas que estavam buscando seu espaço. O que mais me marcou foi que o jogo começou equilibrado e após uma cesta minha, o placar estava 14×10 para eles e o Ary Vidal pediu tempo e mandou o time deles marcar pressão de forma individual. A gente tinha combinado de não sofrer 100 pontos na final, pois eles venciam todo mundo por mais de 100 pontos. Perdemos a final com diferença de 56 pontos e atingimos a meta”, lembra o ex-jogador. Na decisão, a Pony/Corinthians se impôs e sagrou-se campeã estadual ao vencer o Mauá/Ping Pong por 101 a 45.

O time heptacampeão do Pony/Corinthians foi formado com Marc Brown, Betão, João Batista, Marvin, Rolando, Douglas, Gaúcho, Cruxen, Macetão, Pohl, Joel e Diego, time treinado por Ary Vidal. Já o Mauá/Ping Pong foi vice-campeão estadual com Jeferson, Fernando, Luciano, Reginaldo, Márcio, Ricardo, Olavo, Eduardo, Cassio, Gean, Marcelo e Mutti (lesionado, não disputou a final, mas teve participação importante na campanha), time treinado por Reginaldo Soares. “O Ary não gostava porque não tinha comparação com o Corinthians, que estava em outro nível, mas nós fomos o campeão moral daquele estadual por tudo que fizemos naquela competição”, destaca Reginaldo Soares.

Na equipe do Mauá, Gerhardt lembra de Mutti como sendo o principal destaque da equipe. “O grupo era muito parelho e agregamos o Mutti, que tinha saído do Corinthians para jogar com a gente. Ele foi nosso principal jogador no campeonato, mas se machucou no jogo com a Sogipa e não disputou a final com o Corinthians. Foi mais um obstáculo que tivemos que superar por não ter nosso principal destaque na decisão”.

No ano seguinte, o Mauá participou do estadual e finalizou em terceiro lugar ao ser derrotado na semifinal para a Sogipa, que sagrou-se campeã estadual ao derrotar o Corinthians na final, quebrando a hegemonia de sete anos do tricolor santa-cruzense. Após, o Mauá decidiu montar equipes com alunos da escola para participar do estadual de basquete. Jeferson Gerhardt destaca que o projeto do time adulto do Mauá serviu de inspiração para fomentar o basquete na base. “Deixamos um legado importante para as categorias de base da escola que deram sequência ao projeto e revelaram novos talentos, que depois vieram a se destacar no basquete”, finalizou o ex-jogador.

Após confirmar o título estadual, o Corinthians disputou a Liga Nacional de 97 e novamente foi vice-campeão nacional ao ser derrotado por Franca. A perda do nacional marcou o fim da era Ary Vidal no Corinthians, com o treinador carioca assumindo o comando do Flamengo, time do coração, e Uberlândia, de Minas Gerais, nas temporadas seguintes, até se aposentar das quadras.

Aposentado, Vidal manteve o hábito de visitar Santa Cruz do Sul para rever amigos e recordar os grandes momentos que viveu na cidade. Vítima de um infarto, o técnico faleceu em 28 de janeiro de 2013, aos 77 anos, no Rio de Janeiro, mas seu legado será eternamente lembrado por cada torcedor santa-cruzense que vivenciou aquele grande momento que colocou Santa Cruz do Sul em evidência no cenário nacional através do basquete.