Luciana Mandler
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Já se passou pouco mais de um ano desde que o primeiro caso de Covid-19 foi registrado no Brasil. De lá para cá, cientistas ainda tentam entender por que as pessoas reagem de forma tão diferente ao vírus. O novo coronavírus pode provocar desde sintomas leves ou até mesmo nem apresentar sinais como também pode se apresentar de formas graves e que levam a sequelas, podendo perdurar por meses após a contaminação.
Entre os sintomas que têm sido mais recorrentes estão: falta de ar, perda do olfato e do paladar, cansaço logo após o contágio, no entanto, muitas pessoas continuam doentes mesmo após terem sido curadas.
É o caso da agente de saúde de Santa Cruz do Sul, Julia Heck, que teve a confirmação do vírus em dois momentos. A primeira vez que desconfiou estar contaminada, a santa-cruzense conta que os sintomas eram de gripe, muita tosse seca, fadiga (só dormia), falta de ar, diarreia, dor de cabeça e vômito. “Não me aguentava em pé”, lembra. Foi então que resolveu fazer o exame. Foi no dia 28 de agosto, quando na madrugada começou a sentir muita falta de ar. “Fui no médico particular. Fiz o exame de sangue, e no dia 29 confirmou, deu positivo. Na tomografia do pulmão foi possível verificar que estava começando a ter manchas”, conta.
A agente de saúde conta que piorou justamente no momento em que teve o resultado do exame e começou a tratar. “Acho que foi porque naquele momento estava mais ativo. Provavelmente, se não tivesse consultado logo, teria sido muito pior”, reflete. A fadiga levou de 10 a 14 dias para melhorar. Além disso, a cada dia Julia sentia um sintoma diferente. Era dor de cabeça, vômito e diarreia. Já a tosse seca levou quase dois meses para passar, assim como o cansaço.
Para o tratamento, o médico prescreveu remédios já conhecidos, como Ivermectina, Addera D3, Unizinco, Astro e Dipirona. Também usou duas bombinhas para tratamento de asma.
Por ser agente de saúde, Julia sempre seguiu as orientações e tomou os cuidados necessários para evitar um contágio. “Sou hipertensa, por isso, sempre tive muitos cuidados. Usamos máscaras, luvas, as visitas só ocorrem no portão. Não entramos nas casas e eu fico mais no posto ou atualizando cadastros no sistema para não ficar tão exposta”, relata. Ao ser questionada onde pode ter pego o vírus, Julia diz que acredita ter sido no mercado. “Ninguém conhecido ou familiar teve na primeira vez”, acrescenta.
Não bastasse ter sido contaminada pelo coronavírus uma vez, pouco mais de quatro meses depois teve a confirmação do segundo contágio. Para Julia, a chance de pegar Covid de novo era muito pequena, até porque os cuidados continuaram, mas foi pega de surpresa. Foi no dia 10 de janeiro deste ano que Julia recebeu a notícia, porém, os sintomas já deram sinal no dia 5, quando acordou com alergia no corpo e tosse. “Fui consultar (deram antialérgico e antibiótico), pois a tosse poderia ser da asma”, explica. “Até hoje não sei se tenho asma, porque os exames dizem que não, mas o médico diz que sim. Não sabemos se a alergia era sintoma da Covid”, acrescenta. Alguns dias depois, mais exatamente na sexta-feira, dia 8 de janeiro, Júlia começou com muita gripe, e no sábado perdeu totalmente o paladar e o olfato. No domingo, dia 10, começou a piorar a tosse e a falta de ar. “Fui no PA e fiz o PCR”, recorda.
Apesar de ter se passado mais de dois meses desde a segunda confirmação por coronavírus, a santa-cruzense diz que ainda sente cansaço, perda de cabelo (muita) e a memória fraca. “O esquecimento é o que mais me preocupa”, revela. Para que pudesse ter menos sequelas, Julia precisaria de fisioterapia, porém, não conseguiu pelo SUS. “Tentei na Unisc, pela Unimed, liguei para várias clínicas e nada. Teria que fazer particular, então acabei não fazendo”, lamenta.
Para a agente de saúde ter um acompanhamento psicológico também seria muito importante, mas infelizmente não há acesso, “pois mexe muito com o psicológico da gente. Ninguém sabe como vai ser. Não pode ver seus pais, seus irmãos, ninguém te pergunta como você está. Não pode sair a lugar nenhum. É muito complicado”, analisa.
No fim das contas, a santa-cruzense acredita que só não teve complicações, porque quando começava a falta de ar, logo procurava atendimento médico. “Como trabalho na saúde, a gente conhece bem os sintomas e fica mais atento”, diz. Como é da área da saúde, Julia, após os dois sustos recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no início de março, pois é preciso esperar 30 dias para fazer.
Na percepção de Julia, o que mais assustou durante o contágio do vírus foi estar mal e a família não poder ajudar. “Só meu marido que mora comigo. Também não foi fácil ficar de cama sem forças para levantar por vários dias, não ter forças para fazer tarefas diárias, e o pior, não saber se amanhã iria estar melhor ou pior. Se vai passar ou não”, sublinha.
Saúde confirma casos de reinfecção
Assim como ocorreu com Julia Heck, há alguns outros relatos de reinfecção pelo novo coronavírus em Santa Cruz do Sul. A equipe de reportagem do Riovale Jornal entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para confirmar a informação e prestar alguns esclarecimentos.
De acordo com a doutora Clauceane Venzke Zell, coordenadora da parte médica da rede básica de Saúde do Município, há alguns casos de reinfecção, com comprovação através de exames. Ela explica que hoje não há uma maneira diferenciada para atender essas pessoas, pois não há relato de pior quadro quando há reinfecção. “Foi enviado para análise de qual variante de vírus esteja envolvida na reinfecção, mas não temos o resultado ainda”, salienta. Conforme a secretária de Saúde, Daniela Dumke, um levantamento será feito nos próximos dias para monitoramento, e após será possível dar mais detalhes.
SOBRE ACOMPANHAMENTO
Quando havia poucos casos de Covid-19, fazia-se o monitoramento a cada 48 horas. “Hoje, pelo grande número de infectados isso não é mais possível. Mas orienta-se o paciente a fazer o isolamento domiciliar e se houver piora no quadro que procure as unidades de saúde, serviços de urgência e emergência ou o ambulatório de campanha”, esclarece a doutora Clauceane.
OS EXAMES
A profissional ainda salienta que todos os exames chegam até a Vigilância Epidemiológica, independentemente do local onde foram realizados. “Os laboratórios, farmácias necessitam, ou melhor, são obrigados a notificarem qualquer exame de Covid realizado. Independente se positivo ou negativo”, aponta.
Para que a população não confunda e entenda um pouco sobre os exames, a Secretaria de Saúde esclarece a diferença entre os exames IgM e IgG. Um exame de anticorpos IgM significa que a doença está ativa. Já o IgG significa infecção passada ou pode ser imunidade. “Não sabemos até quando essa imunidade se mantém. Alguns relatos são de imunidade por três meses”, enfatiza a doutora Clauceane.