Tiago Mairo Garcia
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Um dos clubes mais tradicionais do futebol amador de Santa Cruz do Sul começava a escrever a sua trajetória vencedora no campeonato organizado pelo Departamento do Cinturão Verde. Vice-campeão nos anos de 84 e 85 quando foi derrotado por Linha Santa Cruz e Boa Vista, o Pinheiral amadureceu com as derrotas sofridas, fortaleceu a base formada por jovens jogadores da localidade aliada com a experiência de alguns “veteranos” da bola para conquistar o bicampeonato do certame e se inserir de vez na galeria dos campeões do Cinturão Verde ao lado de Juventude, de Seival, Linha Santa Cruz, Boa Vista e Juventude, de Alto Linha Santa Cruz.
Com Boa Vista e Linha Santa Cruz como os principais favoritos, o Pinheiral iniciou o campeonato de 89 sonhando em quebrar a hegemonia dos rivais. Massagista do Pinheiral em 89, o representante comercial Irineu Kern, 61 anos, lembra que o time era formado somente com jogadores da localidade. “Tínhamos de oito a nove jogadores da localidade no time titular. Era uma época que se jogava futebol por amor à camisa”, lembra Kern.
Após se classificar para a Taça de Ouro, o Pinheiral chegou até a final onde enfrentou o Linha Santa Cruz, reeditando a final de 84. No primeiro jogo, disputado no antigo Estádio das Parreiras, em Pinheiral, vitória do Pinheiral por 1 a 0. No segundo jogo, disputado no antigo Estádio Oswaldo Marx, em Linha Santa Cruz, o Linha venceu por 1×0, resultado que levou a decisão para a prorrogação. No tempo extra, com gol de Jorge Bertram, o Pinheiral venceu por 1 a 0 e conquistou pela primeira vez o título do Cinturão Verde.
Considerado o principal jogador do time na época, o industriário Jorge Roberto Bertram, 55 anos, lembra o gol histórico que selou a primeira conquista do Pinheiral. “O Adélio cobrou uma falta. Eu pulei mais alto que o Rogério Wartchow (zagueiro do Linha) e consegui cabecear no contrapé do Alberto Hickmann (goleiro do Linha) para fazer o gol. Após o apito do juiz Serginho, a festa começou no campo do Linha e foi até amanhecer em Pinheiral para comemorar nosso primeiro título. Foi uma das coisas mais bonitas no interior que eu vivi”, destaca o centroavante.
O time do Pinheiral, campeão em 89, foi formado com Marlon, Gaspar, Astor, Romeu Bencke e Astorzinho. Jorge Wilges, Luciano e Adélio. Raul, Bertram e Nico. Também jogaram Marquinhos, Ernani e Mauricio, time treinado por Pedro Schwertz e Irineu Kern como massagista. “O Pinheiral era conhecido por ser o time dos Wilges porque tinha Gaspar, Ernani, Roque, Jorge e Serginho Wilges. O Pinheiral sempre beliscava nos anos anteriores. Fomos criando uma família na comunidade que fortalecia nosso desejo de vencer. Nosso time era local e todos jogavam por amor à camisa”, destacou Jorge
Bi em 90
Atual campeão, Bertram lembra que o Pinheiral passou a ser o time batido em 90. Ele destaca que o time manteve a base local e se reforçou com experientes jogadores como o goleiro Flavio Seno, Paulinho Verena, Luiz Antonio e Misso para a disputa da competição. Na primeira fase, o Pinheiral enfrentou as equipes do Sempre Unidos (Linha Travessa), Centenário (Rincão do Sobrado) e Cruzeiro (João Alves) em turno e returno e obteve a classificação como líder da chave. Nas quartas de final, a equipe derrotou o Nacional (Rincão de Nossa Senhora), vencendo os dois jogos por 4×2 e 4×1. Na semifinal, o Pinheiral enfrentou o Linha Arlindo, onde venceu o primeiro jogo por 1×0 e foi derrotado na segunda partida por 2×1. Após empate na prorrogação, o Pinheiral conquistou a classificação para a final nos pênaltis. “Essa semifinal foi inesquecível. O Linha Arlindo fazia uma seleção com os melhores jogadores de Venâncio Aires, Lajeado e Arroio do Meio. Para mim foi marcante jogar contra o Mano Menezes, que era um zagueiro bom e que chegava junto. Eu era guri novo e não arrepiava, sendo um confronto direto de atacante com zagueiro bem disputado. O Linha Arlindo sempre foi freguês do Pinheiral”, destacou Bertram, lembrando da vitória sobre o adversário.
Na final, a equipe enfrentou o União. Após empate em 1×1 no primeiro jogo, em Quarta Linha Nova Baixa, a decisão do título foi disputada no dia 24 de março de 1991 no antigo Estádio das Parreiras, em Pinheiral. Jogando em casa, o Pinheiral foi superior e conquistou o bi ao vencer o União por 2 a 0, gols de Jorge Bertran e Mauricio. “Tinha uma multidão de pessoas na final. O campo só tinha uma corda em volta e raramente dava confusão. A maioria dos jogos terminava em paz”. A final foi apitada por Irno Konrad auxiliado por Décio Custódio (Sarará) e Gilmar Diehl.
O time do Pinheiral, bicampeão, foi formado com Flávio, Gaspar, Astor, Ricardo e Astorzinho. Jorge Wilges, Raul e Luiz Antônio. Carvalho, Jorge Bertram e Nico. Também jogaram Ernani e Mauricio, time treinado por Pedro Schwertz. O União foi vice-campeão com Ivan, Gugu, Nilceu, Leonardo e Darci. Valdino, Zezé e Décio. Isi, Nilson e Romeu. Também jogaram Beto e Clóvis, time treinado por Edemar Soares.
Sobre o bicampeonato conquistado em 90, Bertram foi o goleador do certame com 11 gols e destaca que este foi o seu melhor campeonato. “Eu já estava beliscando nos anos anteriores. O nosso time era bom e a bola chegava com qualidade na frente para mim fazer os gols”, frisou.
Sobre o campeonato do Cinturão Verde, Jorge Bertram cita que a competição foi um dos melhores campeonatos que já disputou. “Era o melhor campeonato da região, onde se reunia jogadores de qualidade e unia as comunidades através do futebol. Era gratificante ver cada um torcendo pelo seu time”. O centroavante destaca que até hoje a comunidade de Pinheiral recorda das conquistas. “Os mais antigos lembram e comentam toda vez que vou na comunidade. A torcida de Pinheiral sempre apoiava o time, sendo um estimulo para os jogadores. Eu, que sou de Pinheiral, tenho muito orgulho de ter vivenciado essa época e sentir esse carinho da comunidade. Sou grato a todas as pessoas que vivenciaram essa história”, finalizou Bertram.
Linha Arlindo é campeão em 91
O ano de 1991 indicou um novo campeão do Cinturão Verde, sendo o primeiro título para uma equipe fora de Santa Cruz do Sul. Trata-se da equipe de Linha Arlindo, situado na localidade de mesmo nome e que hoje se chama Vila Arlindo, interior de Venâncio Aires. O time, treinado por Rudi Klafke, tinha na sua base alguns ex-jogadores campeões do Cinturão Verde com o Juventude de Seival no início dos anos 80. Um dos atletas que integrou a equipe foi o ex-técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, que foi zagueiro e capitão do Linha Arlindo em 1991.
Na final, o Linha Arlindo enfrentou o União, de Quarta Linha Nova Baixa, que voltava a decidir o certame. No primeiro jogo, disputado em Linha Arlindo, vitória do Linha Arlindo por 5×2, gols de Luiz, Paulo, Gilnei e Silvio (2) para os vencedores e de Valdino (2) para o União. No segundo jogo, em Quarta Linha Nova Baixa, as duas equipes empataram em 1 a 1, resultado que pelo regulamento da época, forçou a disputa de um terceiro jogo realizado em campo neutro, que foi disputado no dia 5 de abril de 1992, no campo do Boa Vista, em Boa Vista.
Com gols de Chinês e Silvio, o Linha Arlindo venceu o União por 2 a 0 no jogo extra e confirmou o título de campeão do Cinturão Verde. O time do Linha Arlindo foi formado com Serginho, Vanderlei, Mano, Xita e Irineu. Paulinho, Chinês e Silvio. Fernando, Paulo Ricardo e Edemar. Também jogaram André, Elton, Canicius, Jean e Airton, time treinado por Rudi Klafke. O União foi vice-campeão com Claudio, Darci, Beto, Claudio e Dorotheo. Valdino, Betinho e Albino. Izi, Nilson e Gonçalino, time treinado por Paulo Hickmann. A final teve arbitragem de Silvério Scholtz auxiliado por Irno Konrad e Décio Custódio (Sarará).