Ricardo Gais
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Todas as famílias têm alguma tradição que é passada para as próximas gerações com intuito de que os mais jovens sigam por estes caminhos e preservem as conquistas de seus antepassados. No entanto, ao longo da vida, essas culturas acabam no esquecimento ou os jovens pensam em outros planos para o futuro. É o que está acontecendo na família de muitos agricultores, que pelas dificuldades e trabalho pesado, os filhos optam por seguir outro caminho: estudar e encontrar uma vida melhor na cidade.
Entre todas essas possibilidades de um mundo moderno, no interior de Santa Cruz do Sul, mais precisamente na comunidade de Quarta Linha Nova Baixa, cerca de 21 quilômetros do perímetro urbano, a plantação de tabaco é a principal fonte de renda das famílias que moram na região. Muitas delas seguem com a tradição do cultivo do tabaco e algumas optaram por outras fontes de renda ou apostaram em uma vida diferente na cidade. Aloísio Gais começou cedo na vida de plantador de fumo. Com 12 anos já ajudava seu pai, que na época plantava cerca de 110 mil pés de fumo. 59 anos depois, Aloísio passa seus ensinamentos para o filho mais novo, Rogério Henrique Gais, de 21 anos, que segue os passos do pai desde cedo ajudando na principal fonte de renda da família.
Aloísio é casado com Jacinta Maria Gais e possui três filhos, Rogério, Monica e Andreia. Durante alguns anos, as duas filhas ajudavam na plantação e colheita do tabaco, mas depois de algum tempo seguiram caminhos diferentes. Assim, apenas o filho mais novo ficou em casa para ajudar seus pais com as atividades, que vão desde a ordenha de vacas, às plantações de milho, fumo e verduras.
Atualmente a família planta cerca de 60 mil pés de fumo e nesta semana em que o calor voltou, o tempo firme foi aproveitado para replantar as mudas de fumo das bandejas para as lavouras. “Nesta semana iniciamos uma nova safra e o trabalho começa neste ano, mas só irá terminar no ano que vem”, disse Aloísio.
A safra do tabaco inicia muito antes do que se pensa. O processo envolve muito trabalho e dedicação, e nos primeiros meses do ano as sementes do fumo são plantadas em bandejas que serão colocadas em locais chamados de “piscina” e ali ficam até estarem desenvolvidas e prontas para o plantio no solo. Neste tempo, as mudas recebem todo o cuidado, inclusive são tampadas para não correr o risco de serem queimadas pela geada. Além do trabalho com a muda de tabaco, durante esse período em que a planta se desenvolve, a família já prepara as lenhas que serão usadas para fazer o fogo nos fornos lá no fim do ano, quando começa a colheita, no qual o tabaco passa por um processo para ficar seco, que pode demorar até uma semana e o fogo não pode apagar. Por isso, o fogo é vigiado o dia todo, inclusive durante a madrugada.
Para Rogério o trabalho no campo representa estar em contato com a natureza, as coisas simples da vida e seguir com o trabalho da família. “Acho muito bom o trabalho no campo, gosto do que faço e estar em contato com os animas. Além de poder fazer meu próprio horário para trabalhar”, comenta. O pai que acompanha tudo de perto, destaca que temos que gostar do que fazemos independente de trabalhar na cidade ou na colônia, o importante é se sentir bem. “Temos que gostar do que fazemos, caso contrário, nada que se tentar fazer dará certo”.
Aloísio comenta que irá se aposentar fazendo o que gosta e Rogério pretende seguir os passos do pai e cultivar para os próximos anos a produção do tabaco e aproveitar as coisas boas que só o interior pode proporcionar.