Microempreendedores de Santa Cruz do Sul que ficaram impossibilitados de exercer suas atividades ou que foram prejudicados em suas atividades em razão da pandemia de coronavírus, agora poderão recorrer a uma alternativa de crédito emergencial para, pelo menos, sentirem minimizar os efeitos da crise gerada em praticamente todos os setores da economia. Na sexta-feira, 22, entrou em vigor oficialmente o Programa de Recuperação de Renda, viabilizado pela Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Credisol, com recursos do BNDES.
Pelo financiamento, disponibilizado pelo Banco do Povo, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo, o empreendedor poderá contratar até R$ 5 mil para serem utilizados como capital de giro. O recurso deve dar um suporte financeiro para empresas, lojas, comércio, autônomos, MEIs, informais ou qualquer outro segmento produtivo durante a quarentena. O prazo para pagamento é de 24 meses, com seis de carência. Os juros nesta modalidade são ainda mais baixos do que os tradicionalmente oferecidos pelo Banco do Povo e 50% são subsidiados pela Prefeitura.
1,75% é o juro efetivo para o empreendedor que pagar em dia as prestações. Caso ele atrase, deverá pagar o percentual integral de 3,50%, além de multas e demais encargos do mês em questão. “Esse programa é mais uma ferramenta que vem para facilitar, desburocratizar o acesso ao crédito, a fim de que os pequenos possam superar esta crise. É um apoio aos nossos empreendedores locais em um momento tão difícil”, disse o coordenador do Banco do Povo, Paulo Mans. Ele também ressalta que, da entrega da documentação completa até o crédito disponível na conta são no máximo sete dias, em caso de movimento normal.
No ato de lançamento do programa ocorreu a formalização da primeira liberação do financiamento. O pedreiro Felipe Eduardo Semianer, 26 anos, morador de Linha João Alves, contratou o valor máximo de R$ 5 mil, porém sem período de carência. Essa é primeira vez que ele recorre a um financiamento. Com o serviço escasso por conta da pandemia, ele teme pelo que virá em um futuro breve. “A construção civil voltou, mas devagar. No momento estou fazendo uma casa, é uma obra grande, vou com ela até setembro. Depois tenho outra, mas para o ano que vem não sei como será, não sei se terei serviço, tudo está muito incerto”, disse ele.
O valor contratado na operação será utilizado na compra de ferramentas para dar mais qualidade ao trabalho que Felipe executa. Na construção civil desde os 18 anos de idade, após um período de parada, ele retomou a atividade no ano passado, mas há pouco decidiu trabalhar por conta própria. “Agora vou comprar tudo o que preciso para não ter mais que depender de ninguém já que estou trabalhando sozinho”, explicou.
Em casa a situação não é fácil, a companheira Daniele Greiner, 22 anos, foi demitida da rede de lojas de varejo onde trabalhava desde o final do ano passado, quando foi efetivada. Com a pandemia, perdeu o emprego assim como tantos outros colegas da loja. As despesas agora ficam somente por conta dele. Como já tinha ouvido muito falar sobre o Banco do Povo, surgiu a oportunidade, e ele aproveitou. “Como no momento tenho serviço, com o que ganho vou conseguir pagar as contas da casa e o empréstimo vou poder investir”.
Segundo Mans, nos últimos dias a procura pelo microcrédito tem aumentado consideravelmente. Outros 40 empreendedores locais já estão encaminhando a contratação. Ele explica que devido à necessidade de um valor maior muitos empreendedores estão optando pela modalidade tradicional, cujos juros são já bem inferiores aos do mercado. “Quem precisa pegar mais de R$ 5 mil opta pelo tradicional que é bem atrativo. Por causa da pandemia a carência é de três meses e é possível pegar até R$ 20 mil”, afirmou.
É o caso do empreendedor Márcio Diehl, proprietário de um restaurante self-service no Bairro Universitário. Há 38 anos atuando no ramo da gastronomia, ele jamais pensou em passar pela situação que está vivendo agora. O negócio aberto há apenas nove meses estava, segundo ele, indo de vento em popa. “Estava tudo muito bom, cada dia melhor e de repente isso acontece, uma guerra que a gente enfrenta sem armas”, lamentou.
Dos cerca de 300 almoços servidos diariamente em seu estabelecimento antes da pandemia, agora ele entrega em torno de 50 marmitas e serve outros 20 a la carte. Como se não bastasse, o calendário que estava repleto de eventos noturnos – casamentos e formaturas – até janeiro de 2021 foi cancelado. “Todo mundo desmarcou”, contou.
Para não ter que demitir todos os funcionários – sete entraram no seguro-desemprego e um permaneceu trabalhando com ele e a irmã – Márcio buscou auxílio financeiro junto ao Banco do Povo e contratou um empréstimo de R$ 10 mil. “Vou usar para pagar impostos e um ou outro fornecedor. A situação está muito difícil, acho que me salvo, mas a grande maioria não vai aguentar”, disse. Para ele, a ajuda do município é o que vai dar algum alívio nesse período de incertezas. “Nos bancos nem adianta ir, os juros e as exigências são absurdas”, reclamou.
O que é o Banco do Povo?
É um instrumento criado pela Administração Municipal de Santa Cruz do Sul que busca disponibilizar recursos para concessão de crédito produtivo popular. O objetivo é disponibilizar crédito competitivo, orientado a micro e pequenos empreendedores que queiram ampliar e melhorar o seu negócio, mas não têm acesso aos sistemas tradicionais de crédito.
O que é preciso para solicitar o crédito?
- Ter o empreendimento em Santa Cruz do Sul;
- Ter uma micro ou pequena empresa (formal ou informal, pessoas fisicas ou jurídicas) ou trabalhar por conta própria, mesmo que seja um negócio em casa sem CNPJ;
- Ter experiência na atividade que desenvolve;
- Utilizar o crédito para investimento no negócio;
- Apresentar avalista(s) com renda compatível às parcelas;
- Ter capacidade de pagamento;
- Não possuir restrição cadastral;
- Desenvolver atividade ambientalmente correta;
- Após entregar a documentação, receber a visita de um agente de crédito do programa;
Quais documentos preciso levar?
- Cópia nítida do RG, CPF ou CNH;
- Cópia de comprovante de residência atual;
- Cópia de comprovante de endereço comercial (se tiver);
- E, se casado, cópias do RG, CPF e renda do cônjuge;
- Cópia nítida da certidão de nascimento ou de casamento/união estável, se assim tiver;
- Caso tenha CNPJ e este seja ME ou LTDA, favor também trazer o contrato social da empresa;
O avalista deve apresentar:
- Cópia nítida do RG, CPF (ou CNH);
-Cópia do comprovante de residência atual; - Se casado, cópias do RG e CPF;
- Cópia nítida da certidão de nascimento ou de casamento/união estável, se assim tiver;
- Comprovante de renda atual.