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Idosos mudam rotina por causa da Covid-19

Muitos moram sozinhos e precisam da ajuda de vizinhos e amigos para enfrentar a pandemia

Ricardo Gais
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Com isolamento social, dona Leosilda costuma ler o jornal de forma mais tranquila, para estar por dentro dos fatos – Ricardo Gais

A rotina de muitos idosos teve que ser revista, tanto por eles como pelos familiares. Desde o surgimento do novo coronavírus no Brasil, o sinal de alerta acendeu para pessoas acima de 60 anos, pois se encontram no grupo de risco da Covid-19. A propagação do vírus pelo país mudou a rotina de todos, impondo desafios principalmente aos idosos que moram sozinhos.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mais de 4 milhões de idosos moram sozinhos no Brasil. Com as medidas restritivas para contenção do novo coronavírus, tarefas cotidianas ficaram mais complicadas com o fechamento do comércio e a restrição de circulação de pessoas nas ruas. Por isso, muitos idosos recorrem a vizinhos ou familiares para realizar atividades como as compras do mês. Horários especiais também foram implantados nos supermercados para atendê-los com intuito de evitar aglomerações nos corredores.

Em Santa Cruz do Sul, idosos tiveram que rever seus afazeres e deixar – no momento – as caminhadas, passeios e visitas de lado para ficar em casa, como determina a Organização Mundial da Saúde (OMS). O estágio do vírus está em transmissão comunitária e ninguém está livre de ser infectado, não importa a idade. Mas pelo fato de idosos comporem o maior grupo de risco, restrições tiveram que ser tomadas pelas autoridades.

No entanto, ainda vemos muitos idosos circulando pelas ruas da cidade como se nada estivesse acontecendo. Questionado pelo Riovale Jornal, o Gabinete de Emergências em Santa Cruz, criado para tomar medidas em relação a Covid-19, se posicionou sobre o grande número de idosos nas ruas. “Avaliamos a situação todos os dias nas reuniões. Reavaliamos também e recomendamos, desde o início, que as pessoas cuidem mais dos idosos, pois o risco é muito grande. Por meio de decretos, a Administração Municipal estabeleceu regras para reduzir o movimento, mas cabe a cada um também fazer a sua parte. A responsabilidade é de todos. Precisamos que compreendam que é necessário ficar em casa e que pratiquem isso”.

Exemplos de idosos que cumprem o isolamento podem ser encontrados, como é o caso da dona Leosilda Luedtke, de 79 anos, que mora sozinha e está se adaptando a nova rotina. Natural do município de Vale do Sol, dona Leosilda reside há 15 anos no interior de Santa Cruz, na comunidade de Quarta Linha Nova Baixa.

Ela destaca que está se prevenindo contra o vírus e para isso, teve que deixar de fazer algumas das coisas que mais gosta: conversar com amigos de infância que moram em Vale do Sol, local onde também realiza o saque de sua aposentadoria. “Todos os meses eu realizo a retirada do meu salário em uma agência bancária na minha cidade natal e aproveito o dia para conversar com amigos e familiares, mas neste último mês, não pude ir”, disse. Leosilda destaca: “pela primeira vez tive que pedir para uma neta minha ir no banco por mim”.

Mas não foi só isso que mudou para esta senhora. No próximo dia 12, Leosilda completa 80 anos e como de costume, realiza um grande aniversário para comemorar. Seus filhos e netos vêm das cidades de Santa Cruz, Vera Cruz, Vale do Sol e Herveiras, mas o aniversário dela neste ano será diferente e não terá festa. Leosilda salienta que é para o bem e saúde de todos e que as comemorações podem esperar. “Em toda minha vida, nunca presenciei algo tão sério que fez o comércio fechar. O momento é triste, pois pessoas perderam seus empregos, mas eu não tenho medo desse vírus, estou me cuidando e estou confiante que tudo vai acabar logo”, comenta.

Em isolamento social, dona Leosilda passa o tempo lendo jornal, ouvindo a Rádio Santa Cruz logo cedo, e tratando os passarinhos que voam por seu pátio e pousam na grama. Assim, ela cuida da sua saúde e evita o tédio de não fazer nada. “Ficar em casa não é tão ruim, posso descansar melhor minhas pernas, pois sinto dores ao ficar muito tempo em pé, além de tomar um bom chimarrão na companhia do rádio e cuidar das minhas flores”, finaliza, levando um sorriso no rosto.