Na contrapartida de uma pandemia mundial vivemos tempos de incertezas em diferentes aspectos sociais, políticos e psicológicos. Especificamente no Brasil, onde as informações diferentes das ações acompanham uma velocidade global cada vez mais constante. Mas o que poderia existir de errado nas ações? Seria uma visão refratária cada vez mais submersa em diferentes visões políticas e sociais, ou simplesmente por uma corrente de pensamento contraditória, existente nos movimentos conservadores e liberais neste país, que se anulam e se retro-alimentam frente a uma democracia frágil existente.
Correndo por fora, mas ganhando cada vez mais um roteiro de abismo social, existe um episódio único em nossa jovem democracia, isolado de todos os componentes políticos, praticamente apartidário, observado por diferentes técnicos de saúde mental como uma visão pautada em um possível quadro patológico, eis um chefe de estado que não consegue acompanhar a didática mundial, que tenta ferir o estado de direito usando uma retórica cada vez mais mergulhada em narrativas do caos, das contrariedades e dos discursos egocêntricos. Me refiro mais precisamente ao fato de estar desmotivando a união de uma visão mundial frente à crise de saúde e estampando o contraditório sobre orientações claras da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do próprio Ministério de Saúde do Brasil, que é o alicerce da população e base de orientação mais precisa para se ter neste momento, em virtude de um mal invisível chamado Covid-19.
Poderia trazer uma visão amplamente psicológica para ilustrar este texto, partindo de um mecanismo da defesa de negação de toda uma parcela da população que nega a emergência do isolamento e dos cuidados no presente, possivelmente resultante de um medo inconsciente destas pessoas, de negar literalmente que exista um terrível e nada animador prognóstico em relação ao alastramento do vírus no país, pois lembro que não é por existirem dias belos de sol que não existam tempestades, e neste passo, observando o cenário mundial, apoderar-se de discursos irresponsáveis utilizando todo aparato do estado, é abrir atalhos para a chegada de grandes trovões, capazes de desabrigarem a única fortaleza que parece sustentar a ferramenta do povo brasileiro neste momento, contra o perigo da Covid-19, unicamente a prevenção com o necessário isolamento.
Observamos que muitos utilizam o termo pânico para retratar o estado emocional de algumas pessoas, mas vamos lembrar que em sentido científico, para criticar o momento atual e levando em consideração que este estado emocional (síndrome) nos leva a ter um medo excessivo da morte física, nos remete a um cenário de fuga desta dor, capaz de fazer com que pessoas factualmente se isolem em suas casas. Faço um ponto de indagação por aqui, se algumas pessoas não estivessem em situação emocional de grande medo, será que outras se motivariam a ficar no isolamento? Será que alguns cidadãos mais descrentes do risco fariam ocorrer um maior nível de desmerecimento ou dubiedade sobre o risco inserido na realidade mundial desta pandemia? Ou será que motivado por discursos vindos de uma matriz representativa, de nível presidencial, poderia ou está exercendo uma forma de controle tão poderoso sobre uma massa já fidelizada pelo personagem, não mais adepta pela razão ou sensatez, capaz de analisar e julgar os enunciados desta própria matriz?
Atento ao leitor justamente para este fator, do uso dos termos, pânico e histeria, comumente utilizados por ditos estadistas como formas para criticar o isolamento das pessoas neste momento. Percebam que se realmente algumas pessoas se encontram em situações agravadas emocionalmente, é muito em função de um risco real e eminente para suas vidas, visto o fácil contágio do vírus, não sendo salutar que lhe retirem este medo, pois é justamente o medo que faz com que muitos se previnam e fiquem em seus respectivos confinamentos.
Não é possível que ainda tenhamos que conviver com cenários políticos isolados em momentos como este que estamos vivendo, isto quando toda uma equipe de saúde nacional realiza um esforço hercúleo para passar informações corretas, sobre formas de prevenção e controle. Parece-nos aterrorizante que ainda observamos discursos inseridos no campo de vaidades econômicas futuras e partidárias neste momento delicado da nação mundial, vindas de nosso representante de estado, o que se torna algo desolador e extremamente preocupante.
Logicamente que economia é um ponto grave da questão, mas não para o momento, que exige ação e responsabilidade imediatas. Alerto que não é o momento apropriado para relativarmos situações, tampouco discutirmos sobre posições ou ideologias políticas de esquerda, centro ou direita, é o momento de seguirmos orientações técnicas de saúde mundiais, lúcidas e coerentes com o momento atual, que pode nos exprimir medo, incertezas e intranquilidades, mas que passaremos juntos por tudo isso, enfrentando o isolamento com respeito ao próximo e principalmente pelo amor que temos por nossas próprias vidas.
Cuidem-se, informem-se com responsabilidade e fiquem em suas casas o tempo necessário, a saúde se trata com prevenção e responsabilidade imediata, a economia com planejamento e compromisso para com todos cidadãos deste país.
Norton de S. Soares – psicólogo CRP07/26583