Parece futebol. Com advento o coronavírus, estabeleceu-se uma batalha nas nossas casas, nas redes sociais e nos noticiários: o que vem antes, a saúde ou a economia? Mas esta é uma discussão infértil, com todo respeito, não é nem mesmo muito inteligente.
Estamos perdendo tempo. Esta separação não condiz com a realidade de uma crise internacional. Ideologizar um flagelo desta magnitude é a pior atitude possível. Isolados, com medo, nós nos forçamos a correr para um lado ou outro, como se fosse possível dividir um problema assim em dois campos.
Com isto nos afastamos também das soluções concretas, eficazes. Estas soluções, elas existem, estão bem guardadas e podem ser acessadas pela União a qualquer momento. Por que ainda não exigimos isto? Por que motivo isto ainda não foi feito?
Palpites não faltam. Muito tem se falado no uso dos fundos Eleitoral e Partidário para ações na contenção da doença no Brasil. Também há quem proponha a concentração dos orçamentos públicos na área da saúde, além de cortes de salários dos servidores públicos, dos parlamentares, dos juízes, dos promotores; enfim, que o setor público corte na própria carne. Sou favorável à queima de qualquer gordura, inclusive da minha própria, e tenho dito isto repetidamente.
São gestos muito importantes, até pelo exercício da empatia. Porém, por mais que se tire daqui e dali, precisamos de recursos extraordinários, em grande volume. O Brasil conta com nada a menos do que 281 fundos públicos. No final do ano passado, havia mais de R$ 220 bilhões parados somente nas contas dos fundos públicos infraconstitucionais.
Claro que há muitos interesses em jogo. A começar pelos bancos, que só têm a ganhar gerindo o rendimento desta soma bilionária. Quem já experimentou o cheque especial e a caderneta de poupança sabe a diferença entre o que sistema financeiro cobra de juros e o que ele paga pela remuneração das aplicações.
Realmente, todos temos de fazer sacrifícios. Comparado ao dinheiro dos fundos, já disponível, nossos esforços individuais serão comparáveis a pequenos trocados. É justo que o governo mantenha esta reserva esperando uma emergência? E quando será que estaremos sob emergência, quando chegarmos à situação da Itália, de Portugal, da Espanha?
Não restam dúvidas, a saúde vem em primeiro lugar, mas, com o isolamento social e mesmo o confinamento, devemos estar preparados para o colapso financeiro que já começa a dar sinais. Se esta não ainda não for hora de usar nossas economias, qual será? É a pergunta que faço ao governo federal.
Por Edson Brum – deputado Estadual