A política é campo propício para o ódio e a raiva, mas também de paixões construtivas, como a compaixão e a amizade. Ao invés de ser uma atividade movida pela razão fria e calculista, fazer política é uma atividade em grande parte emotiva. Mas, se a antítese amigo-inimigo (Karl Schmitt) é da essência da política, também o é o anseio pela unidade. Política é luta, enfrentamento e conflito, assim como a arte de fazer aproximações, concessões e alianças com os opositores.
De todas as manifestações de ódio na política brasileira das últimas décadas talvez o anti-petismo seja a mais forte. É impressionante notar como certos setores políticos e sociais destilam ódio ao PT, com expressões como “petralhas”, corruptos, corja e por aí vai. Nas eleições de 2006, o senador Jorge Bornhausen (DEM) chegou a dizer que “vamos acabar com essa raça. Vamos nos livrar dessa raça por, pelo menos, 30 anos”.
Não creio que seja propriamente explicável esse ódio, mas pode-se apontar alguns fatores:
– O estilo moralista e direto, às vezes belicoso, dos petistas em denúncias de mazelas alheias. A reação dos adversários foi igualmente forte quando o PT se tornou “vidraça”. As denúncias anteriores foram cobradas com juros e correção monetária. Essa reação inicial (compreensível) transformou-se em agressividade crescente, desproporcional.
– As falhas e problemas do PT e de seus governos. Não poderia ser diferente: quem é grande e quem governa, erra. Esses erros são apontados pela oposição, como acontece em qualquer democracia.
– Ódio de classe: embora não se possa explicar a sociedade e a política simplesmente com base na divisão de classes sociais antagônicas, como burgueses e proletários, está no DNA do PT o seu vínculo com os trabalhadores e os pobres, bem como sua condenação às grandes desigualdades do Brasil. Parte da aversão ao partido é insuflada pelos defensores do grande capital e por corporações que tiveram interesses contrariados.
– Preconceito contra os pobres: por ser vinculado aos pobres, o PT acaba atraindo os preconceitos dirigidos a eles. Lula é o caso clássico. Nordestino retirante, com pouca escolaridade, falando a linguagem do povão, nunca foi aceito pela “high society”, a elite elitista, nem por boa parte da classe média, que se espelha nos ricos, nem mesmo quando Obama reconheceu seu protagonismo internacional ao dizer que “esse é o cara!”.
– Desinformação: a classe média, com mais acesso a jornais, revistas e sites, reproduz mais os preconceitos anti-PT divulgados pelos grandes grupos da mídia. A aferição científica disso está, por exemplo, no Manchetômetro (http://www.manchetometro.com.br/), da UERJ.
– Pavor de ficar alijado do poder por tempo indeterminado: doze anos de governo federal liderado pelo PT, possibilidade de reeleição em 2014 e possível repetição em 2018 é uma perspectiva que causa verdadeiro pavor em setores que anteriormente governavam o país.
A maior parte do povo não partilha desse ódio. Vê erros e acertos, avalia quem fez mais pelo seu bem estar e quem traz uma perspectiva boa para seu futuro.