Falar mal dos políticos é um esporte largamente praticado em todas as democracias ocidentais. Não é de agora, nem acontece só aqui. Fenômeno complexo, uma das explicações é o mau desempenho dos governos na área econômica e social. A coisa não é tão simples. Vejamos o caso brasileiro.
Desde a redemocratização do país fala-se mal dos políticos. Primeiro, foi o governo Sarney, que não cumpriu as elevadas expectativas geradas pela volta da democracia. A década de 1980 foi uma “década perdida” em termos de recuperação econômica. Com o fracasso do Plano Cruzado, as expectativas populares se voltaram para a Constituinte de 1986-1987. Dizia-se que era preciso uma nova ordem legal.
Veio então a Constituição de 1988, assentando bases legais inovadoras, mas a maior parte de seus dispositivos não se realizou (nem poderia) de imediato. No ano seguinte, a polêmica eleição de Collor. Dois anos de pirotecnias, inflação alta e resultados econômicos e sociais pífios culminaram no impeachment, em 1992. Reacenderam-se certas esperanças com o governo Itamar Franco, mas que pouco conseguiu mostrar, afora o Plano Real, em 1994.
O Plano Real finalmente enfrentou o dragão da inflação e criou as bases para a eleição de Fernando Henrique Cardoso naquele ano, bem como sua reeleição em 1998. O Real, em verdade, só alcançou a estabilização monetária (da moeda), nunca a estabilização econômica. Basta lembrar que mesmo com a grande elevação da carga tributária e com a privatização de empresas estatais a dívida do país disparou. Duas vezes o governo teve que pedir empréstimo ao FMI. Os gastos sociais do governo aumentaram, mas o desemprego alto e a ausência de políticas públicas consistentes minaram a confiança popular. A década de 1990 foi mais uma “década perdida”.
Nesse ambiente de baixo crescimento e de serviços públicos precários, os políticos eram muito mal falados. “Não fazem nada”, dizia-se.
Um novo momento político começou em 2003, com Lula. Depois de um início difícil, o quadro econômico e social do país começou a melhorar significativamente a partir de 2005-2006. Todos os principais indicadores econômicos e sociais tiveram elevação. Os investimentos públicos no social cresceram acima da média histórica, a redistribuição de renda tornou o país menos desigual, 40 milhões de brasileiros foram incorporados ao mercado de consumo e o país vem suportando bem o impacto da crise internacional. A sensação de bem estar aumentou e continua alta, comparativamente ao período anterior a 2003.
Nesse cenário social e economicamente mais positivo, a confiança nos políticos não aumentou. Falar mal dos políticos continua na moda, porque “não fazem nada”, porque “são corruptos”, etc.
Não há explicações simples para a desconfiança nas instituições e nos agentes políticos. Explicações robustas incorporam os mal-feitos dos políticos, os desarranjos do sistema de governo, o papel negativo da mídia, a insatisfação permanente que nos move, a cultura política semi-democrática.
No plano da ação, da prática cotidiana, para quem gosta de falar mal dos políticos a sugestão é: vá, participe e faça melhor!