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Complexo de vira-lata (1)

A derrota para os uruguaios em pleno Maracanã na final da Copa do Mundo de 1950, no chamado “maracanaço”, provocou um profundo trauma nacional, um complexo de inferioridade diante de outras nacionalidades, um “complexo de vira-lata”. Essa é a conhecida tese do dramaturo Nelson Rodrigues.
Temos ainda razões para esse complexo de vira-lata?
O olhar estrangeiro pode nos dar pistas a esse respeito. Recebi há alguns dias de um amigo da Alemanha a publicação “Brasilien, Land im Wandel” (Brasil, país em transição), utilizada no ensino médio no estado de Baden-Württenberg, que ilustra a nova visão de muitos eurepeus a nosso respeito.
A publicação ressalta de forma equilibrada avanços e problemas do nosso país. Destaca o papel estratégico do Brasil no mundo globalizado. Cita a eleição do brasileiro Roberto Azevedo para a direção geral da Organização Mundial do Comércio, a realização da Rio+20, da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 como fatos ilustrativos do reconhecimento do Brasil como um importante jogador global. Somos apontados com um país emergente de destacada posição entre os BRICs e um gigante do continente latino-americano.
Uma comparação entre Brasil e Alemanha mostra que estamos bem atrás em aspectos como produto interno bruto, renda per capita, consumo, expectativa de vida e índices de educação. Mas, também que temos superfície de terras muito maior, mais que o dobro da população (portanto um mercado interno maior), nossa dívida pública é menor e a emissão de carbono bastante inferior (economia menos poluente).
Os brasileiros famosos mostrados em foto são Pelé, Gisele Bündchen, Paulo Coelho, Oscar Niemeyer, Gilberto Gil e Dilma Roussef.
A publicação destaca o êxito no combate às desigualdades sociais dos governos Lula e Dilma, registrando a significativa melhoria em termos do Índice de Gini (indicador de desigualdade social) da última década.
As manifestações de rua de junho de 2013, de indígenas contrários à construção de hidrelétricas e o racismo velado são indicados como parte do processo de transformação com contradições e problemas.
O retrato do Brasil apresentado aos estudantes alemães não é a do país do samba, carnaval e futebol. Ou da Amazônia e sua biodiversidade. É o retrato de um país em transição para o desenvolvimento, mas que tem ainda muito a fazer. Um país que vem avançando rapidamente em aspectos econômicos e sociais, ao mesmo tempo que se defronta com grandes dificuldades.
“O Brasil é um vencedor da globalização? Sim, é claro!”, concluem os organizadores da publicação. Talvez eles estejam vendo melhor de longe o que certos críticos não enxergam de perto.