Em dias de pré-eleições, algo escabroso de ver é a ascensão do partidarismo escatológico, cuja crítica ao sistema é conduzida pelo modelo do delírio. Já vimos isso ocorrer na história, sobretudo em momentos em que o tecido social parecia ruir. Seus resultados foram horrendos.
A radicalização discursiva deste delírio se inscreve, de tempos em tempos, como nova magia do mundo e apresenta seus “novos magos”, que dão a impressão de terem todo o poder de preencher as lacunas sociais existentes. Sua forma subjacente é a truculência, isto é, quando se colocam contra ou a favor de algo, o fazem pelo uso de proposições intensas e tumultuosas. Alguns, por exemplo, em se tratando da criminalidade, podem dizer algo como “O traficante tem que morrer! O estuprador tem que morrer! Sabe por quê? Porque são bandidos. E bandido bom é bandido morto!”. Encontram, com esse tom, muita adesão.
Em contrapartida, tomam o desempenho linguístico acadêmico não como algo que denota zelo e amplo conhecimento, mas como um “blá-blá-blá” que serve para iludir a população ou dela zombar.
Penso que a crise que mais dá as caras em tempos assim é a da Educação. Ela mostra nitidamente suas consequências assustadoras. Mas alguns poderiam contra argumentar dizendo que há pessoas “bem formadas” (doutores, pós-doutores…) que também são partidárias dessa verborragia. Sim, há. Eis a prova de que amplo cabedal de conhecimento não necessariamente fundamenta a lucidez. Além do mais, a história já testemunhou o protagonismo de paixões destruidoras por diversos homens brilhantes de ciência.
Ora, o que leva um homem letrado a ser conivente com radicalismos? Talvez sejam as especificidades culturais familiares (de honra, fé e outras); talvez a pulsão de morte, que atua mais em sua constituição subjetiva que a pulsão de vida; talvez a exaustão físico-mental, em tempos de crise; ou então o excesso de racionalidade, como consideraram os filósofos Theodor Adorno, Max Horkheimer entre outros. O que é certo é que as patologias humanas da insensatez são muito mais facilmente seduzidas por discursos radicais, que se apresentam como forças-tarefa prontas a resolver os problemas do mundo, e com rapidez.
Outra característica intrínseca a tais discursos é a proposta exacerbada de uma “comunhão” entre os “cidadãos de bem”, que protegerá os valores da família e que execrará a multiplicidade de individualidades “perigosa às nossas crianças”. Como se sabe, a “comunhão” sempre foi um signo atraente, pois faz os homens se sentirem pertencendo a algo maior, talvez mais próximos de Deus, mais santificados e detentores da verdade.
Nessa conjuntura, e sob a perspectiva de uma comunidade salvacionista, o poder carismático encontra terreno muito fértil, como observou o grande sociólogo Max Weber. Para este pensador, a dedicação incomum à santidade ou heroísmo de uma pessoa, por causa de sua personalidade extremamente incomum e de seus dons, forma a base para a legitimidade da autoridade de sua “graça pessoal incomum” e, por conseguinte, de suas excentricidades e mesmo de suas atrocidades.