Fico um pouco angustiado quando algumas pessoasse dirigem a mim para tratar de questões próprias da história das religiões, acreditando serem específicas da Filosofia. Minha angústia se acentua quando tentam invadir os limites dessa disciplina com assuntos como reencarnação, fantasmas, existência de extraterrestres, esoterismos de todo tipo, ou então com máximas de autoajuda. Não que eu seja contra o debate sobre esses assuntos, mas preciso deixar bem claro: NÃO TRATAMOS DISSO EM FILOSOFIA!
Ao mesmo tempo, considero essas “invasões” muito importantes, pois tornam mais viva a necessidade de se fazer compreender o mínimo sobre Filosofia. Eis o que proponho aqui, da forma mais simples que me cabe, embora não seja tarefa fácil, dado que há coisas em/sobre Filosofia que as palavras comuns não dão conta de exprimir. Então resumo o mínimo em quatro proposições de conteúdos semelhantes, que servem, justamente, para enfatizar o beabá da disciplina:
(I) A Filosofia é uma manifestação humilde de qualquer atividade intelectual que quer esclarecer algo sobre o homem ou sobre o mundo – (“humilde”, porque sem pretensão de cunho ideológico que resulte na “formatação” e/ou “controle” de pessoas);
(II) A Filosofia faz uma leitura extensa em pormenores do homem no mundo, para entender em que sentido ele se aproxima ou se distancia de uma identidade dita “de massa”, e quais as forças internas e externas a ele, que o levam a ser dessa ou daquela maneira – (os modos de subjetivação e assujeitamento, as relações de poder, os dispositivos políticos e/ou institucionais, entre outros);
(III) A Filosofia é sobre o “conhece-te a ti mesmo” – (aqui temos a redundância “te”= “a ti”, não como um mero efeito retórico, mas como um “conheça o que te faz sujeito, que conheceras a ti mesmo”. Em outras palavras, indica a análise da consciência do que realmente é o “conhecer a ti mesmo”);
(IV) A Filosofia é uma concepção coerente do mundo, uma consciência clara de sua historicidade –(nesse sentido, o estudo da história faz-se imprescindível em Filosofia, sobretudo a história das ideias).
Para que se possa atender com maior propriedade a demanda supracitada, a Filosofia se divide em subáreas (Lógica, Ética, Filosofia Política, Estética, Metafísica, Antropologia Filosófica, Filosofia da Ciência, Filosofia da Religião, Teoria do Conhecimento, História da Filosofia, Psicologia Filosófica, Cosmologia, e outras).
A Filosofia é, portanto, uma reflexão séria sobre a formação e a transformação do homem no mundo, e sobre o mundo que o homem transforma. Não pode ser confundida como pensar especulativo de senso comum acerca de coisas esotéricas/misteriosas do “além” (é, antes, um esforço em compreender o porquê de o homem necessitar tanto desse “além”). Tampouco devemos confundi-la com o pensar duro/vertical sobre coisas mundanas, que mais pressupõem um conhecimento de almanaque, não um conhecimento reflexivo.
A Filosofia é, sobretudo, um pensar diligente sobre o que faz o homem ser o que é. É, assim, um esforço em compreender o que significa “ser” humano.