Se quiser me ver, neste sábado terei acordado mais cedo. Terei despertado com uma sinfonia de sabiás, descontinuada, mas harmônica. Filarmônica. Antes de o sol tentar vencer cortinas, antes de ser possível ver o vento embalando galhos e arbustos, já terei levantado. Vou caminhar até onde houver calçadas, árvores, flores e chafariz. Neste sábado quero ser varanda e vitrine, prenúncio de primavera e brisa quente.
Se quiser me ver, por favor, me procure. Mas não procure em qualquer lugar. Não estarei em qualquer lugar. Se quiser me ver, me procure onde houver vento, lua, prosa e poesia. Procure-me onde houver orvalho, tipuanas, canto de pássaros, e cheiro de manhã. Segue as pedras das calçadas. Estarei entre árvores e o bailar das águas do chafariz. Caso o tempo estiver para chuva, estarei esperando a chuva. Estarei de capa. Vestido. Quando chover vou até onde houver poças nas calçadas. Onde houver guarda-chuva, e os pingos da chuva ali não mais beijarem a superfície das poças, vou ler os reflexos sem cores das águas. Vou traduzir a imagem para a linguagem dos sentidos, e tornar eterno o instante. Às vezes a vida é instantânea.
Se quiser me ver, e o sol encher o dia de luz, canto de cigarras e borboletas de cores várias, eu estarei ali. Estarei com o olhar fixo no chafariz, esperando algum momento mágico com arco-íris. Se quiser me ver, estarei na outra ponta do arco-íris te esperando. Não, não precisa ter medo, você conseguirá caminhar sobre ele, como num quadro surreal. Às vezes a vida é surreal.
Se quiser me ver e o sol estiver se pondo, pintando o céu de magenta, laranja e carmim, espere ver minha imagem escura, contra o poente. Será difícil saber que sou eu, se não olhar a minha sombra. Às vezes a vida é melhor entendida pela leitura das sombras.
Se quiser me ver quando a lua debruçar sobre a noite um manto claro, o mesmo que clareia colinas e bosques, ainda estarei ali. Estarei te esperando como quem espera a hora de nascer. Pode ser hoje, amanhã ou depois. Estarei esperando com o vento no rosto, o mesmo vento que beijou colinas e bosques, montanhas e florestas, vales e planícies. Um vento que vem cheio de vida, com alma de tudo. Às vezes a vida nos ensina a ver alma em tudo.
Se quiser me ver, me procure em momento em que haja vento, qualquer vento. Lembra? Estarei de capa. Quando você ver o vento soprar folhas, poderão não ser folhas, poderão ser páginas. Então estarei de capa e de páginas. Se quiser me ver, me procura na 25ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, de 25 de agosto a 2 de setembro. Meu custo tem mais valor do que preço. Não me importo com meus títulos. Importa ser livro. Sou livro por dentro. Leia-me. Se não gostar, um de nós é mal passado. Se gostar, me dou bem de futuro. Eu sou presente. Então me leva. Leva-me e leia-me. Leia-me, porque “ler faz bem”, porque “ler aproxima”. Leva-me e leia-me. Leia-me sem pressa, mas leia-me inteiro. Só às vezes a vida é inteira. Essa semana será.