Compromisso. Disciplina. Desempenho. Determinação. Atitude. Raciocínio. Precisão. Força. Técnica. Superação. Companheirismo. Respeito. Gratidão. Estas são palavras que definem um pouco o basquetebol como esporte.
No ano 2001, o Sesi (Serviço Social da Indústria) e a universidade Unisc firmaram uma parceria para promover na região o basquete como esporte educativo, e com fins sociais. Já nos primeiros anos associaram-se ao feito a escola Educar-se e o IPSA (Instituto Pioneer Semear Amigos), e o apoio das prefeituras municipais de Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, e posteriormente a de Venâncio Aires.
De 2004 a 2011 acompanhei de perto o Cestinha por ter tido dois filhos inseridos nele como atletas. Foram sete anos de testemunho pessoal, e por isso tenho opinião sólida sobre o tema. Vi em bairros crianças humildes jogando basquete de forma lúdica e disciplinar. Vi, na Unisc, momentos de recreação e integração de centenas de crianças vindas de vários bairros. Transporte e alimentação sempre gratuitos. Vi palestras de atletas em Centros Comunitários de bairros da periferia. Vi também palestras em salas da Unisc aos atletas federados na Federação Gaúcha de Basquete. Vi que nunca houve discriminação racial, social, ou qualquer que fosse. Soube da emoção de alguns pré-adolescentes ao avistarem o mar pela primeira vez, em uma das muitas viagens a torneios e campeonatos de basquete. Como este, soube de muitos depoimentos comoventes. Ouvi pais de famílias falarem da importância do Cestinha em suas vidas quando, anos atrás, o esporte os desviou das drogas e dos roubos, e os norteou a uma vida disciplinada e comprometida com seus familiares e com a sociedade. Vi mães e pais agradecerem, emocionados, pelas oportunidades que o Cestinha proporciona aos seus filhos.
O Projeto Cestinha tem como foco o impacto social das suas atividades, especialmente nas comunidades mais humildes. Em meio a este trabalho é natural que sejam descobertos talentos esportivos, até então ocultos. Vários deles conseguiram bolsas de estudos em escolas particulares onde, além de estudar, participam de competições esportivas jogando pela escola. O Cestinha tem enviado, em média, um atleta por ano a pelo menos uma das categorias de base da seleção brasileira de basquete, onde participam defendendo e honrando nossa bandeira. Alguns atletas alcançaram nível internacional, jogando na Espanha ou nos Estados Unidos, a convite de clubes e escolas. Já ouvi críticas sobre o incentivo a atletas deixarem nosso meio para jogar fora. Críticas semelhantes aconteciam até décadas passadas, quando o ambiente acadêmico brasileiro perdia seus cientistas para universidades do exterior. O conceito ganhou o nome de brain drain (fuga de cérebros), e isso aos poucos foi dando lugar ao brain gain (ganho de cérebros). Sobre isso Nilson Vieira Oliveira, coordenador do Instituto Fernand Braudel de Economia (São Paulo-SP), disse com muita propriedade: “Não existe capital humano perdido. Mesmo os que não retornam ajudam indiretamente, porque criam a sensação de que é possível…” A promoção desta esperança, e o exemplo de que é possível funciona como estímulo, o que eleva o nível e o padrão dos atletas e consequentemente das instituições locais.
O Projeto Cestinha fechou o ano de 2011 atendendo 1348 crianças e adolescentes. Sim, você leu certo: 1348 em atendimento simultâneo duas ou três vezes por semana. Isso pode parecer muito ou pouco. Muito porque tem participação efetiva na formação de milhares de cidadãos. Pouco porque precisa ser mais conhecido e copiado pelo mundo inteiro. O Projeto Cestinha é um dos maiores programas esportivos sociais já existentes, que talvez ainda leve o nome de Projeto pela importância da descoberta da sua vocação em servir de modelo à humanidade, e multiplicar-se.