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O Hip Hop e eu

Fiquei sabendo que haveria em Santa Cruz do Sul um grande evento de danças, o Open Extreme Brasil Hip Hop Dance, com mais de 800 dançarinos incluindo os bambambãs do Brasil e do mundo, e muitas personalidades. Eu sempre quis aprender dança de rua, então pensei: é agora ou nunca. Comprei ingresso para os três dias. Fui sexta-feira à noite. Adorei. Aprendi várias lições, e vou compartilhar algumas delas com você, leitor desta coluna. A primeira delas é a de que se você vai a algum lugar em que se dança hip hop, jamais chegue com a camisa para dentro das calças. Se quiser incrementar o visual, peça emprestado o suspensório do seu avô. Prenda-o na cintura, mas nem pense em colocar as alças nos ombros. As alças do suspensório precisam ficar soltas para baixo, ao lado das pernas. Também fica “da hora” tirar os bolsos para fora das calças e andar assim mesmo, com as calças mostrando estas línguas bilaterais. Uma outra dica importantíssima: nunca vá a estes eventos com cinta nas calças. É imprescindível que apareça o elástico da cueca (por isso escolha bem a cueca). Quando as “mina” verem o elástico da cueca, as “mina píra”. Daí é a vez dos “mano”, que precisam ter cuidado, porque se não, nove meses depois as “mina pári”.
Sábado à tarde haveria aula de dança. Abri o guarda-roupa e as gavetas. Todos os bonés encontrados foram parar em cima da cama. Dançar hip hop sem boné é como viver sem fígado. Escolhi um vermelho. Distraí minha cachorrinha poodle e peguei emprestado o paninho branco dela para pendurar no bolso de trás da calça. Às 13:30 h lá estava eu. Pontual. Uma professora se apresentou com o nome de Fran, fez um aquecimento físico na galera, e começaram os exercícios dos passos, para o pavor das minhas articulações. A profe era super pedagógica e sabia o que estava ensinando. Uma moça tinha pendurado no bolso um pano mais bonito que o meu, cheio de bolinhas pretas. Céus! Onde eu iria conseguir comprar um pano mais descolado num sábado à tarde? Olhei para o outro lado e havia um rapaz com um lenço atado na cabeça por baixo do boné. Putz! Eu não tinha trazido lenço para a cabeça. Dois outros tinham uma crista tipo moicano, como a do Neimar, o jogador de futebol. Fiquei animado, porque no meu caso um implante de cabelos só da crista custaria bem mais barato. Mas depois terei que mechar partes dela com tinta amarela. Se você for loiro, terá que mechar de preto. Mais tarde alguém anunciou: “-Está terminando o prazo para inscrições para as batalhas que acontecerão à noite”. Me bateu o pavor.Tive vontade de dizer: “- Aí ó… comigo não rola essa parada de batalha nem se pá, meu bródi. Eu sou da paz, tá ligado?” Depois fiquei sabendo que eram batalhas de dança, tipo competição. Ufff… alívio. Mas pensei: e se me convocarem para um duelo dançante? Já pensou que desastre eu no palco? Resolvi sentar.
Cheguei à conclusão de que não é tão difícil dançar. Se você não sabe, precisa aprender pelo menos um passo. Por favor, levante-se. Pronto? Agora imagine três nuvens de mosquitos, um de cada lado da cabeça, e o terceiro à sua frente, na altura dos joelhos, a pouca distância. Comece a dar tapas no ar nos dois lados da cabeça como a espantar os mosquitos, e aumente a frequência dos tapas de acordo com a música. Se não conseguir, aumente o número de mosquitos. Para espantar os mosquitos da sua frente, dê chutes no ar alternando as pernas, mas tente ser rápido. Com o tempo você fará tão rápido que as pessoas nem conseguirão ver suas pernas. Vai parecer que você estará flutuando no ar. Agora fiquei arrepiado só de imaginar.
Estão de parabéns o coreógrafo Júnior Soares, o JeF’s  Studio de Danças, os patrocinadores e apoiadores do Open Extreme Brasil Hip Hop Dance. Este e tantos outros eventos colocam Santa Cruz do Sul no topo entre as cidades que promovem cultura. E, mais que isso, norteiam gerações a uma maior visão do mundo, valorizando a vida e não as drogas. É por tantos talentos que “as mina e os mano píra”. Eu também.