Tenho observado os jovens. Na medida em que vão amadurecendo e precisando escolher uma profissão, um grande número deles não sabe o que quer da vida. Há um certo grau de naturalidade nisso. A juventude é um presente, mas a inexperiência vem junto no pacote. Na verdade poderia ser diferente. A inexperiência pode sim ser trabalhada de modo a não comprometer a inocência da infância, nem a irreverência (hormonal até) da juventude. O adulto que nela se forja e alicerça seus degraus, merece uma juventude saudável, bem orientada e consciente.
Por motivos pessoais tenho acompanhado, à distância, uma turma de High School de uma escola dos Estados Unidos, equivalente ao ensino médio no Brasil. Existe lá uma matéria escolar chamada Careers (Carreiras). Nela os alunos são estimulados a pensar nas suas aptidões pessoais, a refletir e exercitar o planejamento das suas vidas. Isto impacta num exercício de autoconhecimento e na visão da importância da construção do alicerce do que se pretende, e do comprometimento necessário. Na matéria Carreiras os alunos têm alguns temas de casa, que precisam fazer na forma de redação. Cito alguns dos títulos destes temas:
1- Que formação profissional você quer ter? Por quê? O que precisa para isso? Onde?
2- Como você se vê daqui a dez anos? (com subitens a abordar)
3- Quais são teus objetivos gerais para tua vida? (com subitens a abordar)
4- Como você gostaria de ser lembrado pelos outros? O que está fazendo para isso?
Entre as milhares de escolas que existem nos Estados Unidos, não sei dizer quantas aplicam esta matéria. Adorei a ideia mesmo sem conhecer todo o conteúdo. Penso que nela podem ser abordados vários temas relativos ao desenvolvimento pessoal, como, por exemplo, a inteligência emocional.
O psicólogo Daniel Coleman, autor do livro Inteligência Emocional (EUA, 1995), revolucionou a psicologia empresarial mostrando que o QI não era a melhor maneira de testar as habilidades humanas. Em uma entrevista recente, ele disse que “o que faz um profissional inteligente se tornar brilhante é o fato de saber cativar os outros, ser um líder que motiva. …Alguém emocionalmente inteligente tem quatro características básicas: traquejo social, autoconhecimento, empatia e, acima de tudo, perseverança.” Disse ainda que “as empresas não estão abrindo mão da inteligência e do talento em nome da boa convivência. Elas estão aliando bem os dois conceitos.” Quando perguntado se esse aprendizado deve começar cedo, respondeu: “Sim. Não vejo o controle de emoções como algo negativo. Não se trata de tolher ninguém, mas de ensinar como lidar com emoções que existem. Conceitos como autocontrole, senso de responsabilidade e o desenvolvimento da autoestima podem ser ensinados tanto a uma criança de 8 anos quanto a um adolescente de 16 anos. Tenho visto instituições que já começaram a ensinar esses conceitos na pré-escola e acho isso formidável. É uma ótima fase para incutir esses pensamentos. Há programas para encaixar essa matéria na grade curricular normal e não leva mais de uma semana para os professores aprenderem a ensinar os alunos. Mas essas escolas são minoria.”
Resta lembrar a importância dos pais de crianças e adolescentes estarem cientes desses conceitos. Se possível, as escolas devem fazer dos pais, multiplicadores dessas ideias, através de palestras e/ou reuniões programadas. Os pais precisam ensinar aos seus filhos que autoconhecimento, empatia e perseverança são a roupagem básica para o trabalho, e o sobretudo para a vida.