Esta semana enviei um artigo a este jornal dentro do prazo combinado. Enviei por e-mail com anexo contendo o texto. Inexplicavelmente o e-mail foi sem o anexo. Existem forças que desconhecemos, energias que nos conduzem. Certas coisas não são do nosso domínio, e temos que ver o lado bom disso. Achei melhor que não tenha sido feito valer aquele artigo, não pelo tema, mas pela abordagem. Adoro artes e artistas. Aventuro-me nas artes plásticas, mas não nas artes cênicas. Havia escrito sobre teatro e vou transcrever abaixo uma parte do artigo.
Há uma semana assisti à peça O Mágico de Oz no Teatro do Colégio Mauá, encenada pelo grupo Cia. Teatro Novo e dirigida por Ronald Radde. A história começa com a personagem Dorothy que, tendo sido atingida por um tornado no Kansas, vai parar com seu cachorro num lugar fantástico chamado Oz. O maior desejo de Dorothy é voltar para casa, e para isso precisa que um mágico lhe mostre como fazer. Para encontrar este mágico e escapar da bruxa malvada, ela conta com a ajuda de três amigos: o Espantalho falante, o Leão medroso e o Homem de Lata. Os maiores desejos destes três amigos são, respectivamente, um cérebro, coragem e um coração. Após encontrarem o mágico, descobrem que ele fingia ser um poderoso feiticeiro, e na verdade era um homem comum. Após derrotar a bruxa, a menina Dorothy descobre que os seus sapatinhos é que tinham poderes mágicos, e sempre estiveram ali, nos seus pés. O Espantalho descobre que tem cérebro, o Leão cria coragem, e o Homem de Lata descobre que tem coração. Usando os poderes dos seus sapatinhos, Dorothy voa de volta ao Kansas, sua terra.
Esta peça teatral infantil musicada, adaptada do livro de Frank Braun, parece ter sido feita para crianças, mas não. Ela instiga a todos a irem atrás de seus desejos, de seus sonhos. Muitas pessoas não se sentem felizes por ainda não terem conquistado seus sonhos. É preciso entender que a felicidade está mais na trajetória do que na conquista, mais na busca do que no encontro. Precisamos entender que não existem mágicos com poderes reais, e que os poderes que estavam nos sapatinhos da Dorothy também estão em nós, aos nossos pés. Assim como o Espantalho, o Leão e o Homem de Lata, precisamos dar cérebro, coragem e coração aos personagens do teatro da nossa vida.
O artigo que eu havia escrito inicialmente contava uma cena em que, em um dos cursos de microbiologia clínica que ministrei, criei um personagem para melhor explicar o movimento bacteriano através de flagelos (flagelos são como chicotes ou rabos ao redor do corpo ou nas pontas das bactérias). O personagem era um destes bonecos de posto de gasolina, estes magrelos doidos, esvoaçantes, movidos por um ventilador. Eles se parecem muito com uma bactéria em movimento. No artigo eu contava que o meu personagem não era um boneco qualquer. Ele tinha estilo. E discorria sobre a cena. Criei este personagem porque tenho cérebro. Achei melhor que não tenha sido feito valer o artigo em que contava sua história, talvez porque me falte coragem. Ao reescrever o artigo acabei citando aqui o meu Boneco de Posto, talvez porque estou aprendendo a ter coragem. Nas artes aprendemos pela força da paixão. Já aprendi a ter cérebro. Estou aprendendo a ter coragem com o meu coração.