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Confidencial

Santa Cruz do Sul, 24 de dezembro de 2011
Prezado Noel:

Vou te chamar de Noel porque és mais conhecido por este nome. Não vou te chamar de Nicolau, como em Patras, na Grécia, onde nasceste, no século IV. Naquele tempo jogavas sacos de moedas pelas chaminés das casas tentando presentear anonimamente (por isso esta história das chaminés). Por presenteares em anonimato concluí que és tímido. Por te julgar tímido escrevi “confidencial” bem grande aí em cima, no título. Fica tranquilo, quando diz “confidencial” as mulheres não leem (hohoho…).
Na verdade estou te escrevendo porque quero ter uma conversa contigo, de homem para homem. Que história é essa de estar andando só com renas? Já és maduro, deves saber escolher uma mulher especial. Convida ela para entrar no teu trenó. Mas não chega oferecendo balas, nem dizendo ho,ho,ho… Mulheres detestam balas e hohoho. Primeiro tira essa luva branca, que tu não és cirurgião. Já que teu nome virou Noel porque significa Natal em francês, convida a tua escolhida para um passeio até Paris, no teu trenó voador. Se ela ficar com medo, segura na mão dela com uma mistura de delicadeza e firmeza, assim ela sentirá segurança. Estaciona nos altos da torre Eifel, no andar do restaurante. Numa mesa junto à janela, puxe a cadeira para ela sentar, pede ao garçom um champanhe. A sequência não vou dizer o que fazer, é contigo, meu velho. Sei que este restaurante é caro, mas, se ela merece, não tem preço.
Quero também te falar outras coisas. A primeira delas é que fica mal teres vários nomes. No Brasil é Papai Noel, nos estados Unidos é Santa Claus, na França é Père Noël, na Alemanha é Weihnachtsmann, na Itália é Babbo Natale, e por aí vai.  Te dou um conselho: unifica teu nome. Isto te dará mais personalidade. Se quiser manter a barba, cuida dela, deixa mais curta. Tira este saco vermelho das costas. Uma mochila ou mala com rodinhas é bem mais ergonômico, tua coluna agradecerá. Mais um: entra numa academia. Dá um jeito neste corpo. És um Papai Noel, e não um Vovô Noel. Quando estiveres num país que tem sol e mar como o Brasil, usa um calção e vê se pega um sol. Vai à praia, joga futebol na areia, vôlei de praia, até frescobol. Só não joga peteca. Se tiver vento, consegue uma prancha e pega umas ondas.
Dizem por aí que tu usas vermelho por causa de uma marca famosa de refrigerantes, mas não é verdade. Até o século XIX eras desenhado como um bispo montado num cavalo, distribuindo presentes às crianças. Em 1862 ficaram muito populares as ilustrações do cartunista americano Thomas Nast, que te desenhava do tamanho de um duende, descendo a chaminé. Quatro anos depois, Nast pintou de vermelho a tua roupa.
Comecei esta carta falando de Paris, de uma noite começada na torre Eifel (na torre, só começada). Na verdade usei uma figura de linguagem, uma metáfora, uma analogia. Paris pode ser a nossa casa, a nossa sala, qualquer lugar. Não precisamos subir numa torre para fazer alguém se sentir no céu, nem para nos sentirmos no céu. O céu pode ser aqui. Termino o parágrafo com a mesma afirmação: se ela merece, não tem preço.
Muito nobre tua atitude de sempre presentear as crianças. Lembro da minha infância e das minhas emoções ao te ver. Mas cresci e mudei. Não sou mais aquele garoto. Não espero mais presente teu. Não quero nada que caiba numa caixa ou num pacote, não preciso. Hoje eu me tenho.

Um abraço. Feliz Natal!

Marion