O desastre
Na retrospectiva esportiva do ano, é inevitável falar sobre a Copa do Mundo. O Brasil ficou em quarto lugar, o que é decepcionante por si só para um Mundial disputado em nossa terra. Mas houve o agravante dos 7 a 1 sofridos na semifinal contra a Alemanha. E, convenhamos, a despedida contra a Holanda, levando 3 a 0, foi tenebrosa. A situação fica pior ao avaliarmos a campanha da Alemanha, que não encontrou as mesmas facilidades contra nenhum outro adversário. Os 7 a 1 foram uma ilusão transformada em realidade. Podemos supor muitas razões para esse desastre e, pra mim, a maior de todas é a lesão de Neymar. Foi não apenas um desfalque gigantesco sob o ponto de vista técnico, mas também uma lesão grave, que por pouco não abreviou a carreira do jogador. Quem acompanha futebol com maior frequência, sabe que um grupo sente a falta de um craque e se abala quando um companheiro passa por uma situação de saúde delicada. E, se esta situação foi ocasionada dentro do campo, o abalo é maior ainda. É bem verdade que o Brasil, antes de enfrentar a Alemanha, não jogou boas partidas e, mesmo com Neymar na semifinal e numa possível final, poderia perder a Copa. E isto reflete o momento técnico do futebol brasileiro, que não é dos melhores.
O problema é a qualidade técnica
A última grande Seleção Brasileira foi a de 2002, recheada de craques como Roberto Carlos, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo Nazário. Tinha outros excelentes jogadores, como eram o goleiro Marcos, o capitão Cafu, Edmílson, Lúcio e Gilberto Silva. Felipão acertou aquele time com precisão cirúrgica. O Brasil ganhou da Alemanha, com clara superioridade, por 2 a 0 e foi pentacampeão em Yokohama.
Em 2014, houve uma inversão de papéis entre Brasil e Alemanha. Felipão talvez não seja mais o “santo milagreiro” campeão da América pelo Grêmio e pelo Palmeiras, mas a derrota não passa só por ele. De 2002 pra cá, a Alemanha investiu muito na formação de jogadores, e isto ficou bem claro ao assistirmos o time germânico nas Copas mais recentes. Em 2010, os alemães tinham Schweinsteiger como primeiro volante, um jogador de enorme capacidade técnica. Em 2014, a posição foi ocupada por Toni Kroos, um talentosíssimo jogador. Isto dá uma dimensão de quanto a Alemanha valoriza a qualidade técnica e o fino trato da bola.
A posição de primeiro volante, no Brasil, é relegada a jogadores de pouca técnica. É um problema que começou nos anos 80. Para quem teve Clodoaldo e Falcão, por exemplo, houve uma queda significativa a partir da Copa de 1986, quando Falcão, em fim de carreira, já não estava em suas melhores condições e acabou na reserva. Mas o que falta hoje ao Brasil era o que possuía em 2002, em 1982, em 1970 e em 1958: os grandes craques nas funções mais ofensivas. É essencial investir na base, e com critério, para que nosso país volte a ser o melhor em termos de futebol.
Nelson Treglia – Interino