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O que temos para hoje?

Três coisas me chamaram a atenção no acidente que matou Cristiano Araújo. A primeira me alertou para o uso do cinto de segurança no banco traseiro. A Polícia Rodoviária afirmou que o cantor poderia ter sobrevivido se estivesse usando o acessório, pois o cinto reduz o risco de morte em 75% para os passageiros do banco de trás. Eu confesso que não tinha o costume de conferir se meus filhos usavam o cinto no banco traseiro. E agora, obrigá-los a afivelá-lo antes de arrancar o carro é uma regra de segurança tão básica quanto eu dirigir de olhos abertos.

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A segunda me gerou indignação por ser diabolicamente desrespeitosa ao sentimento de luto da família do cantor. Os funcionários da agência funerária, durante o procedimento de autópsia, produziram um vídeo mostrando o processo de retirada dos órgãos e, sem pensar na dor que elas provocariam nos familiares e amigos, postaram no WhatsApp.

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A boçalidade foi repercutida nas redes sociais. Em seu programa no SBT, o apresentador Ratinho soltou o verbo: “Você que viu e passou para outro, também é canalha. E também não vale nada! Eu queria saber se você faria o mesmo se fosse seu filho”.

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E a terceira me fez refletir (mais uma vez) sobre a fragilidade da vida. Cristiano era jovem, rico, talentoso e um dos cantores sertanejos da nova geração mais queridos do Brasil. E achou que tinha uma vida inteira pela frente. “Vou dar duro mais uns anos e, depois, diminuir o ritmo de trabalho para curtir a família”, confessou em sua última participação no programa Eliana.

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Eu e todo mundo fazemos o mesmo. Deixamos para amanhã o que devemos fazer hoje. Esquecemos que a frase “Amor, eu te amo” pode não ser possível de ser dita amanhã. Esquecemos que o beijo nos filhos antes de sair de casa pode não ser possível de ser dado amanhã. Esquecemos que amar nossos pais enquanto estão vivos é mais importante que levar flores para eles no cemitério no dia de finados. E pior: não nos damos conta que o dia em que o verso da música “Cê que sabe amor”, de Cristiano Araújo, que diz “o que temos para hoje é saudade” chegará para todos.