Todo mundo sabe que ao menor de 16 anos é proibido qualquer trabalho, salvo na condição de aprendiz a partir dos 14. Mesmo assim, quem nunca viu uma criança vendendo bala no semáforo ou trabalhando de flanelinha? O trabalho infantil no nosso país ainda é um baita problema social. E as crianças negras são as principais vítimas.
Semana atrasada, em Santa Cruz do Sul (RS), encontrei uma delas que catava papel na rua. Parei o carro e perguntei:
– Ei, como você se chama?
Sorrindo me respondeu:
– Francisco.
– Quantos anos você tem?
– 9!
“9 aninhos!”, pensei, ao ver o suor escorrendo pelo seu rosto negro. “Eu tenho um filho de 8 anos, o José Henrique, e não deixo ele atravessar a rua sozinho. E aquele garotinho passa o dia puxando e empurrando seu carrinho cheio de papelão pela cidade!? É de cortar o coração!”.
Desci do carro e dei-lhe um exemplar do meu livro “Estudar pode ser uma festa”. Talvez ele leia no futuro! Se vai fazer alguma diferença em sua vida, só Deus sabe! Mas, no momento, foi a única coisa que me veio à cabeça para fazer.
Depois postei o acontecido no Facebook. A imprensa local se interessou pelo caso. O Conselho Tutelar entrou em contato informando que já estava em busca do endereço da criança. E alertou: “Quando te deparares novamente com situação semelhante, denuncie ao Conselho Tutelar ou ao Disque 100. Eles trabalham, principalmente, através de denúncias recebidas de pessoas como o senhor”. Maravilha!
Enquanto observava o menino descer a rua puxando o carrinho abarrotado de papelão, quase podia ouvir o grito do meu coração indignado: se os tubarões da política, que costumam desviar imensas quantias de dinheiro dos cofres públicos e esconder em contas secretas na Suíça, deixassem por um momento o conforto e a mordomia de seus gabinetes acarpetados e climatizados e saíssem às ruas para ver os “Franciscos” do Brasil que, por pertencerem a famílias de baixa renda, são obrigados a abrir mão dos estudos e das brincadeiras de criança para lutar honestamente pelo pão de cada dia, talvez conseguissem resistir à sua ganância desenfreada e fizessem o que foram eleitos para fazer. Talvez!