A água está cada vez mais escassa – e cara. Em São Paulo, a Sabesp vai aplicar multa para quem gastar mais água esse ano. O objetivo é que a população economize e evite o desperdício. Porém, com essa medida, a concessionária jogou a culpa pela crise da água no colo dos paulistanos, sendo que boa parte do problema está na má gestão dos recursos hídricos existentes.
Nosso país tem a maior oferta de água do mundo. Dos 50 maiores rios, 11 estão aqui. Além disso, 48% do nosso território é repleto de água subterrânea. Temos água suficiente para abastecer todo o planeta. Ainda assim, esse ano, só 29% dos brasileiros vão recebê-la de forma satisfatória.
Nas cidades, os problemas de abastecimento estão relacionados ao crescimento da demanda, aos maus hábitos de consumo da população e à urbanização descontrolada. Mas há outros motivos para esse cenário catastrófico de falta d’água:
A poluição dos rios e lagos: 80% dos esgotos coletados são lançados neles, sem nenhum tratamento. As pessoas não são prioridade: 72% de toda a água disponível é utilizada na agricultura, 11% na pecuária, 22% na indústria, sobrando apenas 6% para o uso doméstico. As verbas públicas são desviadas: Só a CPI das Águas, em Palhoça (SC), calcula um desvio de R$ 10 milhões destinados a serviços de água e esgoto prestados à Prefeitura. As perdas excessivas devido à falta de manutenção do sistema de distribuição: as tubulações são velhas e estima-se que 40% da água tratada se perde antes de chegar às torneiras. E a ilusão de abundância: a fartura fez com que o assunto do problema de abastecimento de água não fosse levado tão a sério nos últimos anos.
A coisa está ficando tão preta que pesquisadores de vários países estão considerando a possibilidade de importar icebergs. Isso mesmo, icebergs! Do mesmo jeito que as massas de gelo são rebocadas para longe de plataformas de petróleo, eles acreditam que um comboio de rebocadores poderia transportar essas montanhas de água doce para regiões com falta d´água.
Ninguém garante que essa ideia mirabolante dará certo, mas o glaciologista Jefferson Simões, professor da Ufrgs e líder do Programa Antártico-Brasileiro, alertou: “Se não soubermos preservar as fontes d’água, os icebergs terão de ser considerados no futuro”.