Um jornal do interior gaúcho no qual sou articulista quer cobrar pelo acesso ao seu site. A alternativa vem sendo adotada por jornais em todo o mundo. É o chamado sistema paywall, onde o jornal disponibiliza gratuitamente parte de seu conteúdo e para o restante cobra uma tarifa pelo acesso. O The Financial Times foi o primeiro a adotar o sistema na Grã-Bretanha e obteve sucesso graças as suas matérias especializadas na área de negócios (os leitores pagam pela assinatura on-line sob a forma de despesas corporativas).
O The New York Times foi pioneiro nos EUA e começou a cobrar dos internautas em 2011, mas, depois de algum tempo, voltou a abrir seu conteúdo on-line. A justificativa? O ativo principal do site é a sua audiência, não o seu conteúdo. No Brasil, a Folha de São Paulo foi a primeira a adotar o sistema, mas o assinante UOL tem acesso grátis. Outros como o Globo, Jornal do Brasil e ZH seguiram os mesmos passos.
Eu sei o que você está pensando: “Sérgio, você citou alguns dos maiores jornais do planeta, cujas informações têm alcance global. O jornal no qual você é colunista e quer cobrar acesso ao site é do interior e conta com alguns poucos milhares de assinantes. Não será um ‘gol contra’, já que a internet tem se consolidado como o ‘templo da gratuidade’?”. Essa é a minha dúvida. Por isso pedi a opinião de alguns diretores de outros jornais no qual sou articulista. Dê uma olhada:
Gustavo Brenner, do Visão Regional, de Ibirubá: “Devido à popularização da internet, esse dia vai chegar, mas para que isso aconteça são necessários conteúdos de valores diferenciados”.
André Dreher, do Riovale, de Santa Cruz: “O leitor da edição on-line não tem o mesmo perfil do leitor do jornal impresso. Por isso não cobramos acesso ao nosso site, por achar que ele é parceiro na divulgação da marca. Inclusive temos patrocinadores da edição on-line que não patrocinam a edição impressa”.
Rafael Henzel, diretor do Jornal Clássico, aqui de Chapecó: “Tem muita notícia disponibilizada de forma gratuita na web. Em uma cidade com menos de 500 mil habitantes, se torna inviável a cobrança”.
Como colaborador, mantenho uma atitude respeitosa diante da decisão da direção do jornal, mas, em solidariedade aos leitores que manifestaram descontentamento, eu pergunto se, por ser do interior, a hora é agora ou não seria melhor recuar (talvez momentaneamente) na intenção de ir pelo caminho do conteúdo on-line pago e procurar outra forma de receita, em vez de cobrar por ele e, no futuro, correr o risco de ter que voltar atrás?