No sábado, eu aproveitei minha estada em Cachoeira do Sul para fazer uma visita de estímulo a Rodrigo da Costa Pereira, que usou a internet para denunciar a rejeição social que sofre por ser portador de uma doença genética rara que provoca deformidades no crânio e na face. Rodrigo relatou que as crianças e adolescentes debocham dele quando o veem na rua. “Está na hora de ter mais respeito com qualquer pessoa que tenha deficiência”, desabafou.
Batemos um longo papo – na verdade, eu falava e ele, às vezes, balbuciava umas poucas palavras, já que, devido à doença, o rapaz de 31 anos tem dificuldades de audição e fala – e, após o abraço de despedida, saí com a certeza de que resgatei um pouco de sua autoestima e dignidade.
Meus pais sentiram na carne o que é ter uma filha com deficiência. Minha irmã Jane, devido à perda total das possibilidades auditivas sonoras aos 6 meses de idade, cresceu tímida e introvertida, era zombada pelos colegas de escola, vivia trancafiada no quarto e não saía de casa para se divertir. E, quando jovem, apesar de passar em todas as etapas das seleções de emprego, esbarrava na entrevista e não conseguia visualizar um horizonte profissional. Um empresário chegou a dizer para minha mãe: “A senhora não vê que ela é surda? Não vai dar certo!”. Felizmente, em 1993, minha irmã prestou concurso público na condição de deficiente auditiva e, desde então, trabalha na Justiça do Trabalho, atualmente na cidade de Estrela. Jane mostrou que deficiência pode não ser sinônimo de incapacidade.
Em 2011, a MTV teve que indenizar uma família que se sentiu ofendida pelo teor do quadro “Casa dos autistas”, onde os humoristas simulavam trejeitos caricatos supostamente típicos de pessoas que sofrem de autismo.
A Justiça entendeu que a cena causou “danos gravíssimos aos autistas e seus familiares”. O ator Paulinho Serra lamentou a sentença: “Fico triste que estejamos no caminho da condenação”. Acredita?
Todo preconceito é desumano. Mesmo assim, vemos seguidamente jovens zombando de idosos, torcidas chamando atletas e árbitros negros de macaco, comunidades do Facebook zoando os deficientes físicos… Como escreveu Jaqueline Machado, cadeirante desde o nascimento, em seu quarto livro, “Vou tentar”: “Pena que a maldade existe e que ela costuma morar justamente no coração daqueles que deveriam nos amar”.