O papa Francisco estreou no cenário mundial quebrando todos os protocolos e dando um verdadeiro show de carisma: desceu do avião carregando sua própria mala, beijou e abençoou crianças, se comoveu com um menino que se comovia com ele, visitou um templo evangélico e rezou um Pai Nosso com os pastores, tomou chimarrão com os fiéis numa cuia do Grêmio, andou com as janelas do carro abertas, beijou uma bandeira da Argentina, visitou favelas, trocou de solidéu com uma beata e usou colar feito com penas de garça e arara dado por índios da tribo pataxós.
Apesar de não usar a Bíblia em seus discursos (Francisco falou muito sobre as coisas desse mundo e quase nada sobre a salvação da alma do cristão), o pontífice incentivou os jovens a “ir contra a corrente” e a serem revolucionários e “não desanimarem” diante da corrupção, rejeitou a ordenação de mulheres como sacerdotisas, defendeu a preservação do matrimônio e ressaltou que orientação homossexual não é pecado, mas os atos homossexuais, sim.
Entretanto, nem tudo foi um “mar de rosas” em sua visita ao Brasil. Enquanto a presidenta Dilma ouvia-o atentamente dizer “não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo”, manifestantes protestavam do lado de fora do Palácio Guanabara contra o uso do dinheiro público pela religião (a passagem do bispo de Roma pelo país custou R$ 109 milhões aos cofres públicos).
O presidente da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea), Daniel Sottomaior, foi um dos que “colocou a boca no trombone”: “O governo tratou a laicidade com descaso, pois nenhuma crença ou descrença pode ser privilegiada pelo Estado. São os fiéis de uma religião que devem sustentar as atividades dela e de seus líderes. O financiamento público de viagens de chefes de Estado só é justo quando elas se devem a assuntos de Estado, não a fins religiosos. Nenhuma norma ou prática pode contrariar a laicidade constitucional do Estado brasileiro”, afirmou.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em resposta, esclareceu: “Foi uma recepção de um chefe de Estado que é líder religioso e atrai multidões pelo seu carisma”. Bem, se a vinda de Jorge Mário Bergólio foi como chefe de Estado da Cidade do Vaticano, e não como líder mundial da Igreja Católica, vamos aguardar os benefícios ou acordos que virão dessa visita diplomática.