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Ganhar e perder faz parte do jogo (e da vida)

O grenal de domingo será o último jogo da história do Olímpico. Só quem vive o clássico sabe que a disputa para o Rio Grande. E não importa se o Grêmio não tem mais chances de conquistar o título ou se o Internacional vem de quatro derrotas e joga apenas para cumprir tabela. Grenal é grenal! Uma das maiores paixões do povo gaúcho.
Meu pai me levava seguidamente aos grenais quando eu era crianca. Nossa familia toda é gremista. E no clássico do dia 17/12/1978, paguei dois micos. Eu tinha 12 anos e, naquele domingo ensolarado, antes do jogo, nós fomos almoçar na Churrascaria Mosqueteiro, que fica junto ao estádio, quando, de repente, eu dei uma dentada no copo com refrigerante. Acredita? Meu pai chamou os garçons para ajudar a procurar o caco de vidro. E nada. Ninguém achou o pedaço do copo.
Mas as trapalhadas não pararam aí. No ínicio do jogo eu fui ao banheiro. E, quando tentei retornar ao meu lugar, olhei a multidão com camisas e bonés azuis e não vi meu pai. Tentei me manter calmo e descer as arquibandas sem tropeçar em ninguém, mas os torcedores gritaram: “Senta moleque!” Assustado, me joguei no primeiro lugar que encontrei e fiquei por ali até o jogo acabar. Meu pai colocou o aviso no sistema de som: “Atenção Sérgio, não se mexa, fique onde está que vou buscá-lo ao fim do jogo”. Eu obedeci e, em estado de choque, não vi o Valdomiro abrir o placar, o Tarciso empatar e o Valdomiro fazer o gol da vitória colorada. Após o término da partida, minutos depois de o estádio se esvaziar, eu senti alguém me cutucar pelas costas, e me virei. Ao ver o rosto do meu pai, desatei no choro.
A verdade é que o grenal mexe com as emoções das pessoas. O problema é quando o torcedor não gosta quando a corneta toca no seu ouvido. Meu vizinho, por exemplo, é um colorado fanático. O cara pula, grita e sapateia a cada gol do time vermelho. E não importa o adversário: jogo do Inter para o Gustavo é motivo de feriado.
No início eu me sentia incomodado, não só quando ele comemorava as vitórias coloradas (que não eram poucas), mas principalmente quando vibrava com a derrota do Grêmio. Ah, isso me deixava indignado! Mas, com o passar do tempo me acostumei à algazarra que vêm do apartamento de cima. E hoje somos dois amigos “gritando” aos torcedores que perdem a linha por conta de um jogo de futebol que a rivalidade não deve ir além do gramado, pois ganhar e perder faz parte do jogo (e da vida).
Bom grenal e que vença o melhor!