Entre os leitores que expressaram sua opinião em meu email a respeito do artigo da semana passada “Não há nada que uma surra de educação não resolva”, o comentário de um professor me despertou mais atenção: “Faz falta ter um salário próximo ao decente. Ou alguém acha correto trabalhar 60 horas (leia-se manhã, tarde e noite) para conseguir sobreviver? Ou fazer como muitos – eu inclusive – que têm que fazer outras coisas para poder pagar as contas?”.
É a mais pura realidade. O achatamento salarial dos professores da rede pública não é de hoje. Desde que me conheço por gente os docentes são pressionados por remunerações baixas e más condições de trabalho. O Jornal O Globo, em maio, noticiou que o magistério segue sendo a carreira de pior remuneração no Brasil. A consequência é que esse desprestígio está afastando cada vez mais as novas gerações da profissão.
Como não notar os professores que pedem carona à beira da estrada, no trevo da RSC 287 com BR 153, em Novo Cabrais. Quem passa por ali, no fim da tarde, se depara com homens e mulheres – mais mulheres do que homens – que têm a missão de formar cidadãos que construirão as sociedades futuras, dependendo de carona para voltar pra casa. Minha esposa sabe bem o que é isso. Com sol ou com chuva lá ia a Marta para a beira da rodovia se aventurar a pedir carona, com o dedo polegar apontado para cima. “Eu precisava chegar à escola para dar aula” – explica.
O magistério, mais do que profissão, é vocação. Ao contrário de outras funções que, ao se fazer a opção, antes se analisa as vantagens, as possibilidades de ganhos financeiros e de realização de sonhos, a pessoa que se decide pela carreira de professor e nela permanece, é movida pelo ideal. Dificilmente alguém inicia no magistério pela ambição, pela grana. A maioria lesiona por amor.
Mas, caso o governo, um dia, decida priorizar a educação, qual seria o salário ideal para que o educador possa manter a família sem triplicar o tempo de trabalho? O senador Cristovam Buarque, que também é professor universitário, afirmou que o salário do magistério deveria ser em torno de R$ 9mil por mês. Segundo ele, este é o valor médio pago à categoria em países como Chile e Coreia do Sul.
Bem, eu sei que não há motivos para se ter qualquer esperança. Por isso, enquanto espero “sentado” ver esse sonho se realizar, continuarei assistindo os professores pedindo carona à beira da estrada, no país chamado Brasil.