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Honestidade pode não deixar ninguém rico, mas deixa livre

Em São Paulo, um casal de moradores de rua que cata papelão para vender, encontrou um saco plástico com R$20.004,00, perto do viaduto onde vive. Imediatamente, eles ligaram para a Polícia e devolveram a grana.
O papeleiro Rejaniel Jesus dos Santos, que possui um colchão, dois cobertores e algumas peças de roupas, disse que, apesar de viver nas ruas por causa das dívidas, se lembrou dos ensinamentos de sua mãe ao decidir devolver o dinheiro:
 “Minha mãe me falou, para nunca pegar nada que é dos outros”.
Após ler a reportagem eu fiquei “viajando na maionese”: O congresso e o senado poderiam chamá-lo para uma palestra sobre honestidade. Talvez Rejaniel pudesse ensinar aos tubarões da política (para os quais a prosperidade parece ser sinônimo de exploração, corrupção e injustiça) que o bom nome vale mais do que as riquezas e que o homem que perde a sua honestidade já não tem mais nada a perder.
Bem, políticos à parte, ainda há razões para crer que a maioria das pessoas é honesta. Por exemplo, em Portugal, antes do clássico Benfica e Sporting, a Coca-Cola promoveu uma ação publicitária legal: uma carteira com dinheiro foi deixada no chão, em frente ao Estádio da Luz, para ver a reação dos transeuntes (assista no youtube “a carteira da rivalidade”). O resultado surpreendeu: 95% das pessoas entregaram o objeto na bilheteria. E quando as imagens foram reproduzidas no telão o público aplaudiu de pé os honestos torcedores.
Eu tinha uns dez anos quando recebi de meu pai uma lição sobre honestidade que carrego comigo desde então. Ele era proprietário de uma oficina mecânica na BR 290 e atendia seguidamente os argentinos que vinham ao Brasil. Naquela época o país vizinho tinha uma moeda forte e costumeiramente eu ouvia os comentários dos funcionários:
– Esses castalhanos cheios da grana vêm passar as férias em nossas praias e tudo fica mais caro!
Certo dia meu pai me pediu para cobrar certo valor, referente ao conserto de um carro argentino. Quando entreguei o dinheiro, ele gritou comigo:
– Porque cobraste o dobro?
– Eles têm muita grana…
– Volte lá e devolva o que não é seu. Como ficará sua consciência sabendo que lograste alguém? – ordenou.
Envergonhado, devolvi o dinheiro e, após me sentir aliviado, compreendi o que meu pai estava me ensinando: a honestidade pode não deixar ninguém rico, mas deixa livre.