Aqui em Caxias não se fala em outra coisa: uma idosa, de 87 anos, virou heroína nacional após matar um ladrão que invadiu a sua casa. Ela mesma relatou o ocorrido:
“Eu estava dormindo e, quando acordei, ele estava parado ao meu lado. Ele me disse para ficar calma e saiu. Peguei o revólver e fui atrás dele. Quando me viu, ele se virou. Apavorada, atirei”.
Esse caso reascendeu um debate: o desarmamento de todos os civis. Conforme pesquisa realizada pelo Ibope, grande parte dos brasileiros aprova o desarmamento já que o país é o campeão mundial de mortes por arma de fogo. Em contrapartida há os que não dão o braço a torcer e alegam que os acidentes acontecem com pessoas despreparadas para portar uma arma e que o governo desarma o homem de bem, mas deixa o bandido armado. Os norte-americanos validam essa tese ao alertarem: “Quando as armas forem colocadas fora da lei, apenas os fora da lei terão armas”.
Eu, particularmente, apesar de não possuir arma e já ter permanecido por mais de uma hora em minha casa com dois ladrões encapuzados, respeito os argumentos de ambos os lados. E, devido ao aumento da iniquidade e da deficiência no efetivo policial, sinto-me como a maioria: com o coração receoso e inseguro.
Mas creio que a melhor pessoa para dar uma opinião é aquela que passou por momentos difíceis nas mãos de marginais ou se envolveu em um acidente com arma de fogo. Ciro Fabres, jornalista caxiense que pregava o desarmamento, teve a vida salva justamente por um homem armado. Ajoelhado no meio do mato, entre quatro bandidos, Ciro achou que era o fim. Felizmente, após um dos sequestradores, com o coração cheio de ódio, gritar “bota o saco nele”, um morador da região, percebendo a movimentação estranha, atirou para o alto. Os delinquentes fugiram mato adentro aos berros de “sujou, sujou”.
Esses dois eventos nos levam a uma análise mais cuidadosa sobre o assunto: de um lado uma senhora de bem que teve sua casa invadida e, por possuir um revólver (e o coração amedrontado e inseguro), foi atrás do ladrão e o matou. Terá que conviver com esse fato pelo resto da vida. Do outro lado um cidadão desconhecido que, graças a sua arma de fogo, salvou um jornalista das mãos de bandidos que espalhavam terror, movidos pelo ódio.
Aí fica a pergunta: deve-se desarmar o povo se ele não sabe desarmar o coração?