Enquanto escrevo este artigo recebo em meu estande Companhia do Sono os visitantes da Festa da Uva 2012 de Caxias do Sul. O evento é sempre um bom momento para rever os amigos e matar a saudade. Entretanto, há um lado negro nisso tudo: todo mundo tem um história triste para contar. Ai vem à questão: por que o homem governa com relativa habilidade o mundo que o rodeia, mas tem sérias dificuldades de administrar seus pensamentos, suas reações impulsivas e sua dor emocional? Por que ele é tão feliz quando tudo está “numa boa”, mas tem dificuldade em colocar a cabeça nos eixos quando está sob tensão?
Eis aí uma prova incontestável que o ser humano não sabe como lidar com os problemas. Por isso Benjamin Franklin aconselhou: “Viver é enfrentar um problema atrás do outro. O modo como você o encara é que faz a diferença”.
Há anos atrás eu conheci um homem que, durante um período de sua vida, adquiriu diversas dívidas com bancos, agiotas, amigos e parentes, até chegar num ponto, em sua caminhada, que perdeu totalmente a esperança de dar uma “virada” em suas finanças. Encontrei-o em um leito hospitalar, com vários quilos abaixo do seu peso, em estado profundo de estresse emocional.
Meses após esse acontecimento, voltei a encontrá-lo no centro da cidade e alegrei-me:
– Que bom tê-lo de volta, “cara”!
Ele então me contou:
– Sérgio, eu me sentia completamente derrotado e havia desistido de continuar a viver, até que, certa manhã, um novo paciente foi internado no leito ao meu lado. Ele era um jovem portador de síndrome de Down.
No primeiro dia, eu não consegui olhar em seus olhos, apesar de ele não tirar o olhar de mim. Mas do segundo dia em diante, percebi que ele queria dizer-me algo. Seu olhar puro transmitia uma paz que nada e ninguém conseguia explicar. De repente, milhares de pensamentos vieram à minha mente: “O que você está fazendo com sua vida, ‘cara’? Você tem filhos maravilhosos, uma esposa te aguardando em casa e um corpo saudável que te proporciona trabalhar. Agora, olha teu companheiro de quarto. Ele não nasceu com as mesmas virtudes. Talvez ele nunca possa lutar por seus sonhos. Portanto, levante-se dessa cama e dê um jeito na sua vida, senão você vai morrer”.
Naquele dia meu amigo descobriu que um problema deve ser nosso professor, não nosso coveiro.