De quem é a música “Eu só quero um xodó”? É muito provável que você tenha respondido, rápida e faceiramente: “Dominguinhos”. Pois bem, a autora dessa letra é Anastácia – Lucinete Ferreira, de batismo ¬– companheira do sanfoneiro por muitos anos. Assim como Anastácia, muitas outras mulheres compositoras fizeram e fazem o mundo da música brasileira brilhar nos palcos do mundo. E precisam ser lembradas.
Se você pensa que Chiquinha Gonzaga foi quem abriu alas para a composição feminina brasileira do século XX você está certo. Chiquinha, desafiando todos os limites impostos pela sociedade da época, batalhou para o seu reconhecimento como musicista profissional e além de compositora e pianista de grande talento, foi a primeira mulher a reger uma orquestra no país.
Ainda assim, na história do samba, tentaram invisibilizar as mulheres. Como exemplo temos dona Ivone Lara, que em 1965 tornou-se a primeira mulher compositora de samba-enredo cantado na avenida, com o samba “Os cinco bailes da história do Rio”, na Império Serrano. Suas primeiras composições foram apresentadas como sendo de seu primo mestre Fuleiro. Isso, apesar de as mulheres terem participado da construção do gênero samba, cuja produção era coletiva e acontecia nas rodas, que contavam com a participação tanto de mulheres quanto de homens. Sambistas contemporâneas como Telma Tavares e Teresa Cristina citam a influência e a importância de dona Ivone Lara.
Por falar em roda de samba, felizmente o cenário está mudando e as mulheres estão ocupando seu espaço de direito. Em 2018 aconteceu o Encontro Nacional de Mulheres na Roda de Samba, homenageando Beth Carvalho e com a participação de 10 cidades brasileiras e duas argentinas. O evento teve sua segunda edição em 9 de novembro de 2019, simultaneamente em 28 cidades situadas em 19 estados do Brasil e também na Argentina, Portugal e Itália, com Leci Brandão como homenageada. A proposta do encontro, idealizado pela cantora Dorina Barros, é unir rodas de samba femininas. São as mulheres abrindo alas. Mulheres de verdade. Deixa a gente passar!
Bia Ferreira tem razão. Da icônica Amélia de Mario Lago e Ataulfo Alves não sentimos saudade, não. Hoje não precisamos e não queremos ser Amélia. Queremos sua desconstrução, queremos ser quem a gente quiser. Mulheres do século XXI.
*Valentina Daldegan e Patrícia Carla Ferreira – professoras do curso de graduação em Música do Centro Universitário Internacional Uninter.