Eu venho “esquecendo” livros em aeroportos, navios, portos, praças, ônibus, bares, restaurantes, em lugares públicos e em outros países, inclusive, há vários anos. Foi uma ideia que surgiu inadvertidamente, sem nenhuma pretensão, mas que trazia prazer em fazer, pois é muito bom imaginar que alguém vai achar o livro e vai levá-lo para ler. E o que é melhor ainda, pode passá-lo adiante, depois, para que outras pessoas possam lê-lo, também.
Então fico sabendo, há pouco tempo, que outros escritores também estão fazendo isso, “esquecendo” livros por onde passam. E alguns até ficam à espreita, às vezes, para ver a reação da pessoa que vai achar o livro. A pessoa vai levar o livro, vai lê-lo ali mesmo e depois deixá-lo no mesmo lugar? Disseram-me que já se surpreenderam com o que viram. Por exemplo: uma pessoa apanhou o livro, inspeccionou-o, olhou para os lados, como para ver se alguém estava prestando atenção nela, colocou-o na bolsa e foi embora, de fininho. Como se achasse um tesouro. Não é interessante?
Dia destes, recebi uma mensagem de um outro escritor, que anunciava o projeto “Esqueça um livro e espalhe conhecimento”, que vem sendo colocado em prática há uns anos, ou seja: está instituído o “Dia de esquecer livros”, no dia 25 de julho. Mas podemos “esquecer” livros a qualquer altura do ano, claro.
O projeto conclama a todos a esquecerem livros na padaria, no banco da praça, nos pontos de ônibus, dentro do ônibus, dentro do trem, dentro do metrô, no restaurante, em todo lugar público. Até sugeria um bilhete para se deixar no livro a ser esquecido: “Você achou este livro, agora ele é seu”. Eu acrescentaria, como faço na página de dedicatória dos livros que “esqueco” por aí: Leve o livro, leia e, se puder, esqueça-o em algum lugar público para que outra pessoa venha a lê-lo.
Tudo isso para dizer que essa gesto de “esquecer” um livro pode fazer a gente muito feliz. E faz. Outro dia, numa reunião de escritores que fizemos em Santo Antonio de Lisboa, deixei no restaurante um livro com a mensagem sobre a qual já falamos: leia e deixe o livro num local como este, para que outra pessoa o ache e possa ler também. Pois no último final de semana, em outro encontro, uma escritora nova que chegava me dizia que foi ela a leitora que pegou o livro que deixei lá em Santo Antonio de Lisboa. E que ela já tinha copiado alguns poemas e já o tinha “esquecido” em outro lugar. Não é sensacional? Conheci uma das pessoas que encontrou um de meus livros, e ela me disse que gostou de alguns poemas e que até os copiou. É pra ficar feliz, vamos combinar.
Então, “esquecer” livros é fundamental. Quantos leitores lerão nossos livros “esquecidos”? Um, nenhum, muitos? Não importa. O que importa é que isso significa a oportunidade de ler, de gostar de ler, de ter e manter o hábito de ler para muitas pessoas. Significa incentivar a leitura. E leitura é tudo. É descoberta, é conhecimento, é entretenimento, é cultura. É oportunidade de uma vida melhor, pois estudar é ler, ler é estudar. E estudar é se preparar para a vida, é garantir para cada um de nós uma vida digna.
* Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020.