LUANA CIECELSKI
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O mercado de tabaco vem mudando, fato que não é novidade. Apesar disso, é difícil prever como será o futuro do mercado e da produção, porque essa mudança ainda está no início. São muito recentes as novas formas de consumir tabaco – como o uso de vaporizadores, por exemplo – e todas elas ainda vão passar por processos de aprimoramento. Uma coisa, porém, já é praticamente certa: o tabaco do futuro deverá ser de alta qualidade e a tecnologia aliada ao campo será fundamental.
Foi o que afirmou o presidente da Souza Cruz, Liel Miranda no fim da tarde da última segunda-feira, 19 de março. Ele veio para visitar e participar da Expoagro Afubra e concedeu entrevista coletiva na sede da Souza Cruz ao lado do diretor de tabaco da Souza Cruz em Santa Cruz, Dimar Frozza. Entre outros assuntos, ele falou sobre o futuro das empresas do setor tabagista, dos novos produtos que estão sendo desenvolvidos e lançados, a tecnologia no campo, o Sistema Integrado de Produção de Tabaco e da diversificação.
CIGARRO ELETRÔNICO
Para Miranda, o “futuro será baseado em uma combinação de ofertas para os consumidores”, ou seja, ofertas de produtos tradicionais e também de novas tecnologias. Entre essas novas tecnologias estão os cigarros eletrônicos – ou vaporizadores, como ele prefere chamar – que já estão sendo amplamente comercializados e utilizados em outros países, mas que no Brasil ainda não possuem liberação.
Isso, felizmente poderá ser mudado em breve. Isso porque, segundo Miranda, pela primeira vez desde que surgiram os vaporizadores, há alguns anos, a Anvisa resolveu chamar autoridades no assunto para debater essa liberação. O encontro acontecerá em Brasília no dia 11 de abril e vai reunir entidades, associações, empresas e pesquisadores brasileiros para debater. A expectativa, pelo menos da Souza Cruz é positiva.
“A gente compreende o posicionamento da Anvisa no sentido de que é preciso regulamentar essa liberação, porque se for simplesmente liberado, o mercado acabará sendo invadido por amadores, ou por produtos produzidos em outros países, onde não temos como controlar a qualidade”, afirmou Liel. Por outro lado, ele também considera que o uso de tecnologias como essas é irreversível, porque elas causam mesmo menos riscos à saúde do consumidor. “A busca pela satisfação sempre existiu e não vai deixar de existir. Mas as pessoas estão buscando alternativas menos prejudiciais. No caso dos vaporizadores, eles tem a nicotina que é o que dá a satisfação, mas não há a absorção de outras substâncias, o que representa 95% menos risco”, explica.
FORMA DE PRODUÇÃO FUTURA
Mas se a forma de consumo vai mudar como vai ficar a produção de tabaco? Essa é a pergunta que não quer calar e que preocupa a região, produtora de tabaco. Miranda não afirma nada ainda. Diz que é cedo. Mas acredita que a produção local não corre riscos. “Pode ser que haja uma redução na quantidade de tabaco utilizado, mas não haverá uma redução da qualidade. Ao contrário. Os de maior qualidade estarão garantidos, porque os novos equipamentos vão exigir isso”, comenta. E nesse sentido os produtores ligados à Souza Cruz têm uma vantagem, porque o Sistema Integrado garante a qualidade e a venda.
Além disso, essa mudança será bastante gradativa. “As tecnologias existentes são ainda de primeira geração e serão aprimoradas”, disse. “Nos países que mais utilizam o cigarro eletrônico, como por exemplo, os Estados Unidos, esse produto corresponde ainda a apenas 5% de tudo o que é consumido, ou seja, o cigarro tradicional ainda tem muita força e deve levar um tempo até que isso mude”, apontou. Num planeta com mais de 1,5 bilhão de fumantes, serão necessárias muitas gerações para que a mudança ocorra definitivamente.
TABACO LOCAL
E no quesito qualidade, Miranda e Frozza garantem, a região está muito bem e o avanço das tecnologias ligadas à produção só deve melhorá-la ainda mais. “A qualidade depende de algumas fatores. Entre eles está o clima – chuva, luminosidade, temperatura. Até alguns anos, a produção estava sempre a mercê das mudanças. Mas agora há tecnologias que nos ajudam a prever como será o clima durante uma safra, se haverá fenômenos climáticos ou não. E podemos trabalhar melhor com essas variáveis”, explica.
Em relação à última safra, Frozza aponta que ela teve uma qualidade boa, com algumas regiões de qualidade excepcional e outras regiões de qualidade um pouco inferior, porque as previsões hoje são feitas à nível regional e podem variar de uma localidade para outra. “Mas o melhor de tudo é que a Souza Cruz precisa de todos os tipos de tabaco para os mais variados tipos de produtos. Além disso, o Sistema Integrado também garante a venda de tudo o que foi cultivado. “Não há mais aquele sistema de dizer eu quero só esse fumo aqui, ou só o fumo desse produtor”.
CONTRABANDO
Por fim, outro dos temas discutidos foi o do contrabando. E segundo Miranda, essa questão teve uma grande evolução em 2017 e no início de 2018. “Conseguimos parar de piorar”, brincou. Ele explicou que isso se deve por três principais motivos:
1º estagnação dos impostos: a diferença de preço entre os cigarros brasileiros e uruguaios chega a 80% em alguns casos e o governo só vinha aumentando cada vez mais os impostos. E no último ano, pela primeira vez eles não aumentaram. “Eles chegaram à conclusão de que a gente tava certo”.
2º percepção da sociedade: as pessoas começaram a se dar conta dos malefícios do cigarro contrabandeado – para a saúde e para a sociedade. Muitas pensam que cigarro faz mal de qualquer jeito, então tanto faz qual será fumado, mas finalmente está sendo criada uma consciência de que o cigarro contrabandeado gera dinheiro para os traficantes, e que eles estavam financiando também o contrabando de armas, de drogas, etc.
3º investimento na segurança: o governo percebeu também a necessidade de lutar contra o contrabando e o crime organizado relacionado ao cigarro. Quer investir na área de segurança, nas forças armadas.