Início Geral Fabiano: "Sou um cara realizado"

Fabiano: "Sou um cara realizado"

Nelson Treglia

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O ‘Riovale Jornal’ entrevista hoje o corredor Fabiano Peçanha, que está encerrando a carreira de atleta profissional. No dia 5 de julho, ele foi a última pessoa a carregar a tocha olímpica em sua passagem por Santa Cruz do Sul. Foi um grande momento, em que Fabiano foi recebido por um público significativo na Praça Getúlio Vargas. Algo extremamente merecido para um atleta que conquistou a medalha de bronze dos 800 metros rasos nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo 2003 e do Rio de Janeiro 2007. Também foi semifinalista dos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e Londres 2012.

 

Fabiano diz que pretende se dedicar à Associação Medalha de Ouro

 

Riovale Jornal – Fabiano, por que você resolveu encerrar a carreira de atleta profissional?

Fabiano Peçanha – Eu já programava o final de carreira para este ano, no máximo até o final dos jogos olímpicos. Como não classifiquei, então o final ficou no Troféu Brasil. Os motivos foram de que eu já não consigo mais atingir as grandes performances do passado, devido, possivelmente, aos 24 anos de exigências dentro do esporte. Outro motivo é que financeiramente também eu já não tinha mais apoios suficientes para me manter profissional do esporte com as exigências que o alto nível exige (alimentação, suplementação, tratamentos médicos, fisioterápicos, deslocamentos a treinos e competições etc). Para viabilizar o projeto olímpico, contei com vários apoiadores que me auxiliaram, mas com ajudas pequenas, o que fez com que eu tivesse que vender um terreno que possuía, para ter condições de pôr em prática todo o cronograma para obtenção de índice olímpico, e ainda continuar ajudando a Associação Medalha de Ouro. Minha carreira, daqui para frente, se tornaria insustentável de uma forma profissional, por isso, também, é que chegou a hora de parar.

RJ – A quem você agradeceria por sua carreira vitoriosa?

Fabiano – Muitas pessoas e entidades foram fundamentais para o sucesso em minha carreira; Ninguém consegue fazer nada sozinho; Por isso, de uma forma geral, eu precisaria agradecer desde a Deus e a quem criou o atletismo a milhares de anos atrás, até aquelas pessoas e entidades que estiveram muito próximas de mim minha vida inteira; em especial, minha família.

RJ – Se tivesse que escolher apenas um momento especial nesta longa trajetória, qual seria?

Fabiano – Talvez o momento mais especial da carreira foi quando eu estava no estádio olímpico de Londres nas prévias da semifinal dos 800 metros rasos, diante de 80 mil pessoas presentes e outras 4 bilhões pela televisão. Mas se tornou mais especial pelo fato de que toda minha família estava no estádio olímpico. Durante os dez minutos que estive ali, antes da largada, fiquei contemplando aquele momento, aonde havíamos conseguido chegar e, possivelmente, pela última vez na vida.

RJ – Como foi ser recebido por tantas pessoas quando carregou a tocha olímpica? O entusiasmo do público era grande. Foi um momento definitivo de consagração?

Fabiano – Conduzir a tocha em Santa Cruz foi muito especial e sem dúvidas uma das maiores emoções da vida. Ver o brilho nos olhos de milhares de pessoas, das mais jovens às mais idosas, foi indescritível. Sabemos que a tocha em si não resolve nenhum problema do mundo. Mas ela pode sim, ser um estopim para que cada pessoa busque ser alguém melhor; e que cada criança procure ter exemplo, educação e disciplina, para ter momentos na vida como eu fui grato em ter.

RJ – Há alguma coisa que você deixou de fazer enquanto atleta profissional, e gostaria de ter feito?

Fabiano – Sou um cara realizado pela carreira que tive. Confesso ter tido muito mais objetivos alcançados do que não.

Dentro das pistas, gostaria muito de ter encerrado participando desta olimpíada. Fora dela, gostaria de ter conseguido sensibilizar o poder público do quão benéfico para o município seria a gente já ter a pista sintética na cidade, pela qual tanto lutamos e a qual merecemos. Mas este objetivo ainda vai seguir com certeza. E em relação à vida pessoal, como iniciei no atletismo com 10 anos e vivi uma infância, adolescência, juventude e fase adulta ligado ao esporte, me acostumei com uma vida mais “regrada” e não sinto falta de coisas que pudesse ter deixado de fazer. Até pelo contrário, o atletismo me proporcionou coisas que dificilmente eu teria feito sem ele, como por exemplo conhecer 46 países em quatro continentes.

RJ – Quais serão suas atividades daqui pra frente profissionalmente? Em termos pessoais, tem algum hobby que você queira adotar? Você gostava de tocar bateria. Ainda faz isso?

Fabiano – Daqui pra frente pretendo me dedicar mais ao projeto social da Associação Medalha de Ouro, para começar a abranger centenas de crianças e tentar oportunizar a eles um pouco que seja do que o atletismo proporcionou a mim. Também tenho outros projetos pessoais já encaminhados, que pretendo dar mais atenção a partir de agora.

Tocar bateria é sim meu hobby favorito, hehe, tanto que entre amigos, já criamos a banda de nossa confraria e grupo de corridas: A Banda do Caminhão.