LUANA CIECELSKI
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Com todos os congestionamentos que uma cidade tem, com a crise econômica que torna cada vez mais curto o salário do trabalhador e com os altos preços dos combustíveis nos postos de gasolina, a bicicleta surge cada vez mais como uma opção. Além de econômica, ela aumenta a qualidade de vida por proporcionar a prática de exercícios, torna a transposição de distâncias mais rápida do que se fossem feitos a pé, e que ainda por cima tem a vantagem de não ser poluente como outros meios de transporte.
Diante desses fatos, as cidades e as pessoas cada vez mais vêm se adaptando. Em algumas cidades europeias a proporção entre número de moradores e o número de pessoas que se locomovem de bicicleta chega a ser de 80%. No Brasil, com a popularização cada vez maior do veículo, algumas cidades já vêm se estruturando para acomodá-los também, como é o caso do Rio de Janeiro que possui uma malha cicloviária de 344 quilômetros, e já é a segunda maior da América Latina.
Em Santa Cruz do Sul, a realidade ainda está um pouco longe de ser essa já que a cidade possui, no total, 10 quilômetros de faixas para ciclistas. Porém, isso não impede que cada vez mais santa-cruzenses tomem gosto pelo ciclismo e pela arte de pedalar, como aconteceu com Volnei Martins, de 51 anos. De segundas a sextas-feiras ele atende os santa-cruzenses como cirurgião dentista. Nos fins de semanas, folgas e férias ele é um aventureiro.
Tudo começou a cerca de três anos. Graças aos hábitos do dia a dia e à profissão que exigia uma determinada postura durante o atendimento de cada paciente, Volnei começou a sentir dores na coluna. Então um amigo sugeriu que ele começasse a andar de bicicleta. Foi o que ele fez e desde então, não parou mais. “O ciclismo é um esporte barato e traz muitas vantagens. Andar de bicicleta requer muito pouco gasto em comparação a outros veículos”, comenta. As dores nas costas? Elas deixaram de existir.
Porém, com o tempo Volnei percebeu que gostava dos desafios. Quando viu, ele estava participando de grandes competições ciclísticas como a Audax onde são percorridas distâncias de 200, 300, 400 e 600 quilômetros. Há cerca de duas semanas ele também fez uma viagem de bicicleta sozinho. Na manhã de sexta-feira, 15 de janeiro, às 7 horas, ele deixou seu carro estacionado na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e partiu em direção ao município de Lapa, no Paraná. A viagem levou seis dias (cinco para ir de bicicleta e um para voltar de carro), e no total, foram 38,5 horas pedalando e pouco mais de 700 quilômetros percorridos.
Essa viagem, é claro, foi um sucesso, mas nem tudo são flores. Recentemente Volnei também sofreu um pequeno acidente durante uma competição que tinha como destino Charqueadas. Em determinado momento o pneu de sua bicicleta encostou no pneu da bicicleta da frente e em seguida e ele estava no chão. Além de uns ralados, alguns dentes foram quebrados e um pedacinho de osso do cotovelo. A cabeça, no entanto, não teve nenhuma lesão. “O capacete me salvou”, conta ele. Por esse acidente e por outros que já viu acontecerem, Volnei é um grande defensor do uso do equipamento.
Infelizmente dentro da cidade Volnei prefere não circular. Além de sentir certa vergonha de todo o apetrecho de segurança que ele normalmente usa em suas pedaladas, “eu sempre pareço um pinheiro com um monte de luzes e refletores”, comenta, ele considera o trânsito e as pistas pouco indicadas. “Para os carros já não é muito bom, imagina para os ciclistas, né?!”.
Volnei, porém, não é o único. De acordo com uma pesquisa desenvolvida em 2015 pelo Clube do Cicloturismo no Brasil, 95% dos brasileiros não estão satisfeitos com o tratamento que é dado aos ciclistas. Dentro da pesquisa foram destacados problemas tais como ausência das ciclofaixas ou ciclovias, alta incidência de roubos, falta de sinalização, dificuldade de transporte e de estacionamento dos veículos.
Além desses problemas apontados pelas pesquisas, os ciclistas de uma forma geral também concordam que mesmo nas cidades onde há uma boa extensão de cicliovias e ciclofaixas, não há ligações entre bairros e o centro da cidade, fazendo com que as vias existentes não deem conta das necessidades dos ciclistas. Outro problema muito destacado é cultura dos motoristas. Muitos não conhecem as leis, que dão preferência as bicicletas em relação aos demais veículos. Isso faz com que não haja um bom compartilhamento das vias.
Segurança é tudo
Mesmo com todas essas dificuldades culturais, acidentes de bicicleta não estão entre os mais recorrentes. Em todo o Rio Grande do Sul, de acordo com dados do Detran, eles correspondem a cerca de 4% dos acidentes de trânsito. Já em Santa Cruz do Sul, durante todo o ano de 2015 a ambulância dos Bombeiros atendeu 125 ocorrências envolvendo ciclistas. O grande problema, no entanto, não é a quantidade de acidentes e sim sua gravidade.
Os ciclistas, normalmente ficam bastante feridos, isso quando os acidentes não são fatais, como aconteceu na última segunda-feira, 25 de janeiro, em São Paulo, com um dos ciclistas mais famosos do mundo, Cláudio Clarindo. Ele treinava na Rodovia Rio-Santos, quando um veículo o atropelou depois que motorista dormiu ao volante. Mesmo estando com todos os equipamentos, ele não resistiu ao choque. Um amigo que estava junto com ele naquele dia também sofreu múltiplas fraturas.
Esse é um bom exemplo para explicar porque quem anda de bicicleta sempre deve estar munido de equipamentos de segurança. Mas não basta só isso, é preciso também roupas apropriadas e um comportamento específico ao se locomover no trânsito. Giovani Faccin, proprietário da Faccin Bicicletas dá algumas dicas.
Segundo ele, o ciclista sempre deve andar no lado direito da pista e nunca na contramão dos carros; além disso, sempre deve-se usar os assessórios de segurança, inclusive o capacete, pois, apesar de não ser um item obrigatório, pode evitar lesões cerebrais e proteger de sol e de chuva; já para aqueles que andam no fim da tarde ou à noite, é recomendada a sinalização com lâmpadas de Led (as da frente são brancas e as traseiras são vermelhas); também é recomendado o uso de espelho retrovisor, de refletores, de roupas claras para que o ciclista fique visível no trânsito, e de campainha, pois ela possibilita ao ciclista dar sinais sonoros aos pedestres de forma mais gentil.
Faccin também lembra que a audição é muito importante para o ciclista. Por isso ele deve evitar acessórios que diminuem sua capacidade de ouvir, ou utilizá-los em apenas um dos ouvidos e nunca muito alto”; também é bom planejar seu trajeto antes de sair de casa evitando ruas muito movimentadas. Além dessas, outra dica importante é sempre levar documento onde conste nome, endereço, fator RG e tipo sanguíneo e cuidar doequipamento, fazer manutenções e utilizá-lo corretamente.
Assistência de clubes
Para quem gosta de pedalar, já o faz há algum tempo ou está interessado em começar, outra boa dica é a associação à clubes de ciclismo. Além de promover pedaladas e eventos ciclísticos, eles também podem auxiliar tirando dúvidas sobre segurança e equipamentos e também indicando profissionais da saúde que possam oferecer uma assistência médica.
Esse é o caso do Santa Ciclismo. Fundado em 19 de junho de 1993, o clube possui todo um calendário de atividades ciclísticas que podem ser acompanhadas, inclusive com programas semanais. Além disso, também são parceiros do clube diversos médicos como a nutricionista Tânia Leonir Gassen, o fisioterapeuta Rodinei Miguel Severo, o ortopedista e traumatologista Felipe Vitiello Wink, o oftalmologista Martim Panke, a dermatologista Tania Zuquetto de Almeida e o psicólogo Carlos Eduardo Franzen. Para buscar mais informações ou associar-se, basta acessar o site www.santaciclismo.com.br.
O que diz a legislação?
>> Bicicletas obrigatoriamente devem ter: campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos pedais e espelho retrovisor do lado esquerdo;
>> Ciclistas devem andar na lateral direita da pista ou em ciclovias/ciclofaixas;
>> Ciclistas têm prioridade sobre outros veículos;
>> Colar na traseira do ciclista ou apertá-lo contra a calçada é infração grave. A distância a ser mantida é de 1,5 metro;
>> As ciclofaixas e ciclovias são exclusivas para bicicletas;
>> As bicicletas nunca podem circular na calçada;
>> Nos acostamentos, os ciclistas devem andar em fila única;
>> Ciclistas devem sinalizar através de gestos manuais sua intenção de executar manobras para alertar os demais usuários da via;
>> Quando houver necessidade de subir na calçada, o ciclista deve desmontar da bicicleta. O ciclista desmontado é equivalente a um pedestre.
>> Semáforos e faixas de pedestre também devem ser respeitados pelos ciclistas;
>> Ciclistas não podem: conduzir passageiro fora da garupa ou do assento especial a ele destinado; transportar crianças que não tenham condições de cuidar de sua própria segurança; transitar fazendo malabarismo ou equilibrando-se apenas em uma roda; transitar sem segurar o guidom com ambas as mãos, salvo para indicação de manobras; transitar transportando carga incompatível com suas especificações.
Fonte: Código de Trânsito Brasileiro
Mais dois quilômetros para Santa Cruz
Santa Cruz do Sul ainda não tem uma malha de ciclofaixas muito extensa – atualmente são 10 quilômetros -, porém aos poucos, essa realidade vai mudando. E para 2016, as expectativas são boas. De acordo com o Secretário Municipal de Transportes e Serviços Públicos, Alexsander Knak, mais dois quilômetros de faixas para ciclistas estão sendo construídos.
As obras ainda estão em fase inicial, porém, depois de pronta a ciclovia, ela deverá ter uma alta qualidade. “Estamos trabalhando nela e ainda não há uma previsão de término, porém ela ficará muito boa. Umas das coisas que estamos trabalhando nela, por exemplo, é a iluminação subterrânea”, contou o secretário. A nova ciclofaixa estará localizada na rua Barão do Arroio Grande, no bairro Arroio Grande.