LUANA CIECELSKI
[email protected]
Desde a última sexta-feira, 13 de novembro, o mundo inteiro tem voltado seus olhos para Paris, a capital francesa que sofreu com diversos ataques simultâneos de terroristas e que teve – de acordo com a agência de notícia AFP – 129 de seus moradores mortos além de centenas de feridos. Desde então, diversas notícias são divulgadas diariamente sobre o assunto falando desde a comoção dos parisienses até as estratégias de combate ao terrorismo de diversos países que estão inclusive, se unindo para combater o Estado Islâmico (EI), culpado assumido pelos ataques.
Com todas essas informações circulando, a sensação de todo o mundo é de insegurança. Em especial depois dos vídeos divulgados pelo EI, onde radicais anunciavam que o ocorrido em Paris é apenas o começo. Todos também ficam pensando na situação dos parisienses, imaginando o medo que eles devem estar sentindo. No entanto, de acordo com quem está lá e tem acompanhado de perto a situação, essa imagem não poderia estar mais errada.
É o que afirma a santa-cruzense Muriel Assmann, de 28 anos, que mora há mais de quatro anos em Paris. Segundo ela, os franceses não estão inseguros. “Eles estão mostrando, desde sábado, que eles estão em pé. Que eles estão em guerra, sim, mas que os terroristas não vão conseguir nos abalar. Eu acho muito bonita essa postura deles, de vigor, de orgulho… Eles falam o tempo todo de que não vão se deixar levar pelo medo, e que se o EI quer tentar atacar os maiores valores franceses, eles não vão conseguir”, conta ela.
Ela frisa também que ninguém deixou de seguir sua rotina. “Ele (o francês) não ficou trancado em casa. Ele tá na rua, ele tá na Place de la Republique, ele foi prestar homenagem em frente aos locais atingidos, ele foi pro trabalho e pra escola normalmente, ele está falando sobre isso, ele está pegando o metrô… Se criou, meio que inconscientemente, essa ideia de que eles precisam mostrar de que não estão com medo, de que eles não foram destruídos. Isso tá muito bonito de se ver”, comenta.
Segundo ela, aos poucos diversas teorias também vão surgindo na mídia francesa e nas conversas dos franceses. As pessoas se perguntam como foi feita a escolha dos alvos e começam a chegar a conclusão de que o EI não atacou turistas na Torre Eiffel ou franceses de classe mais alta, e sim a juventude progressista, cosmopolita, os jovens idealistas e em boa parte de esquerda, que eram os frequentadores e moradores dos locais mais atingidos. “Pra mim essa mensagem é muito clara…”, afirma ela. E para muitos outros franceses também: os terroristas queriam atingir a juventude parisiense e seus ideais.
Felizmente, para a santa-cruzense e seus amigos, tudo terminou bem. Ela conta que na hora em que os ataques ocorreram ela jantava com uma amiga e que ficou sabendo que havia algo errado quando amigos começaram a enviar mensagens perguntando se estavam bem. Muitas informações elas também receberam pela televisão. O contato com a família aqui de Santa Cruz também foi tranquilo. Quando as informações nem tinham chegado direito ao Brasil ela já havia avisado os pais sobre sua situação. Posteriormente o contato continuou acontecendo pelas redes sociais.
Sobre o que acontecerá daqui pra frente, ela prefere não dar palpites, porque é bastante difícil prever. “Os franceses são super politizados, então cada um tem convicções políticas e sociais sobre tudo o que acontece no país. Tu vai encontrar gente da extrema direita dizendo que é culpa dos muçulmanos e que tem que expulsá-los do país. Tu vai encontrar liberal moderado que vai dizer que tem que intensificar as ações na Síria. Tu vai encontrar um cara de esquerda dizendo que acima de tudo esses acontecimentos não podem dar margem pra que o governo reduza a liberdade dos cidadãos… Enfim, tem de tudo. O que a maioria sabe é que essa história dos bombardeios na Síria não vão mudar grande coisa, porque a França não tem uma verdadeira força lá (eles só têm 3% das forças militares que estão agindo na Síria nesse momento). Eles acham em geral que o governo não tem efetivo militar e policial suficiente pra proteger a população.”
Já os terroristas que se dirigiram aos estádios são Ahmed Al Mohamed, um cidadão sírio nascido que chegou à Europa em outubro e Bilal Hadfi, um francês de 20 anos que residia na Bélgica e que teria viajado para a Síria no ano passado, de acordo com os investigadores. Um terceiro terrorista que agiu nas proximidades do estádio também ainda não foi identificado.
Os terroristas responsáveis pelos ataques nas ruas de Paris, por sua vez, foram Ibrahim Abdeslam, de 31 anos, um francês residente na Bélgica que se explodiu perto do restaurante Comptoir Voltaire e seus dois irmãos Salah Abdeslam, que ainda não foi localizado e Mohamed Abdeslam, que foi preso na Bélgica mas libertado na segunda-feira sem qualquer acusação.
Ainda de acordo com informações divulgadas pelos investigadores, o mentor dos ataques foi identificado como Abdelhamid Abaaoud, de 27 anos, um cidadão belga de origem marroquina que foi apontado como coordenador dos ataques de Paris a partir da Síria.