Luana Ciecelski
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Depois de três meses de negociações, a comissão dos representantes dos fumilcultores nos três estados do Sul – formada pelas federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep), dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) e pela Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) -, está encontrando dificuldades para negociar o reajuste do preço do tabaco com algumas empresas fumageiras. Para garantir que o preço de venda do fumo cubra ao menos o custo de produção, a Afubra garante que é necessário um aumento de pelo menos 6,4% com relação às tabelas anteriores, no entanto, algumas empresas apresentaram outras propostas ou não concordaram com esses valores.
De acordo com o presidente da Afubra, Benício Werner, as primeiras reuniões para tratar do assunto aconteceram nos dias 2 e 3 de dezembro em Santa Cruz. Nesse primeiro encontro, todas as grandes empresas fumageiras foram informadas dos percentuais necessários e o acordo já foi acertado com a Souza Cruz. A segunda reunião aconteceu no dia 12 de janeiro. Nessa data, as empresas Phillip Morris e Continental Tobaccos Alliance (CTA), de Venâncio Aires, também assinaram o acordo de 6,4% de aumento do preço do tabaco para todas as classes do Virgínia e também para o Burley.
Nesse mesmo mês, uma negociação também foi iniciada com a Japan Tobacco International (JTI). A empresa apresentou a proposta de pagar 6%. “Se nós olharmos o percentual de aumento que a JTI deu para a safra de 2013/2014, mais o percentual que eles estão dando agora, o resultado será a mesma tabela montada para o reajuste de 6,4%”, explicou. No entanto, a empresa, segundo Benício, paga mais pelos fumos mais maduros e menos pelos fumos mais claros. “Nós até assinaríamos com eles esses 6% desde que eles valorizem os “Ls” como as demais”, afirmou.
As últimas reuniões de negociação aconteceram no dia 5 de março. Foram visitadas as empresas Universal Leaf Tabacos, a Alliance One e a China Brasil Tabacos (CTB). Essas três empresas, explicou Benício, concordaram em reajustar a tabela em 6,4%, no entanto, apenas para as folhas de fumo colhidas da metade do pé para cima, ou seja, as classes B e T. “Nós não aceitamos isso, porque não tem como produzir tabaco apenas da metade do pé pra cima. Sempre vai ter meio pé para baixo e meio pé para cima”, declarou.
Além disso, também estão pendentes as negociações com as empresas Premium Tabacos do Brasil, Tabacos Marasca e a Indústria de Tabacos e Agropecuária (Intab), e outras empresas que têm uma participação menor no mercado.
Ana Souza
Benício Werner: “Os 6,4% são o percentual mínimo de aumento que nós, como entidade podíamos admitir para que o produtor não saia no prejuízo”
Pressão das entidades vai continuar
De acordo com a Afubra, uma semana depois da última reunião, as três empresas (Aliance One, CTB e Universal) ainda se mantém firmes em suas decisões, mas as negociações devem continuar e a Afubra pretende insistir no reajuste de 6,4% para todas as classes do Virgínia e do Burley. Isso porque esse aumento é fundamental para os produtores de fumo. “A gente sempre precisa cuidar para que o produtor tenha uma lucratividade. Os 6,4% são o percentual mínimo de aumento que nós, como entidade podíamos admitir para que o produtor não saia no prejuízo”, afirmou o presidente da Afubra.
Além disso, os representantes dos fumicultores do Sul do Brasil também estão em contato com os jurídicos das entidades. De acordo com Benício, existe um documento assinado por todas as empresas, um Termo de Ajuste de Conduta que garantiria o reajuste do preço do tabaco de forma a cobrir, ao menos, o custo de produção. “Estamos verificando se há um respaldo com base nesse termo. Se houver, nós vamos insistir seriamente com essas empresas. Queremos que tudo sempre ocorra dentro de normas razoáveis de conduta, porém não podemos simplesmente desconhecer que esse percentual que as empresas estão oferecendo pode não trazer o lucro que as entidades buscam para os fumicultores”, comentou.
A Alliance One, a China Brasil Tabacos (CTB) e a Universal Leaf Tabacos foram procuradas pela redação do Riovale Jornal, mas preferiram não se manifestar sobre o assunto.
O ideal é o produtor acompanhar a comercialização junto à empresa
Benício afirmou também que nesse ano, as entidades já estão fazendo e pretendem continuar, um acompanhamento bem de perto da comercialização de fumo entre fumicultores e empresas, para garantir que elas ocorram da forma mais justa possível para os produtores. “Em anos que as empresas não são tão rigorosas na compra, não há uma necessidade desse acompanhamento. Mas nesse ano, sim”, afirmou Benício.
Outra dica que o presidente dá aos próprios agricultores é que na hora de vender o seu fumo para uma empresa, ele mesmo vá até a fumageira, converse com os técnicos e defina lá um preço. “Esse é o ideal na nossa região, onde as empresas não estão tão longe”, disse Benício, “porque as despesas que ele vai ter de deslocamento e de repente de refeição, o fumicultor pode ganhar nas negociações”, explicou. Além disso, indo até a fumageira, o produtor tem a vantagem de detectar algum problema nas negociações e imediatamente solicitar um apoio também da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), explicou Benício.