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A Nossa Inevitável Finitude

O ano termina, a roupa envelhece, a casa deteriora, o carro quebra, estrelas poderosas milhões de anos antes de nós explodem e viram nuvens de gás, o dinheiro encurta ou até mesmo some e nós vamos nos envelhecendo. Neste ano que finda muitos de nós perderam pessoas queridas e que foram “embora” muito cedo. Gosto de compreender que nascemos para morrermos bem idosos. Tive familiares e amigos que passaram dos cem anos com boa saúde biofísica e mental. 
Na teologia judaica a vida é para ser vivida até que se esgote biologicamente e de forma natural os órgãos vitais. “Meus eleitos terão a idade das árvores” (Isaías 65, 17-25). As arvores citadas pelo profeta eram o jacarandá, a oliveira e a palmeira. Arvores que vivem muitos séculos. No novo testamento também se firma o valor da vida longeva e não curta. Jesus trouxe novamente à vida crianças e jovens (o jovem de Naim e a filha de Jairo, etc). No evangelho de João 10,10 Jesus proclama um pequeno “credo” à vida.
Somos teimosos em não aceitar nossa inevitável finitude e a finitude dos que amamos. Em parte, nossos egos tomados de tantos desejos e estímulos, infelizmente alguns muito tóxicos, não deixa espaço para que a alma tenha sentido e iluminação. Uma alma esvaziada nos deixa na sombra e assim vivemos como assombrados, medrosos de nosso próprio destino e com medo da “ponte” a atravessar mais cedo ou mais tarde. Ter medo da morte só atrapalha e nos adoece de muitas formas, mesmo que inconsciente. Não que temos que estar voltados e obcecados pela “irmã morte” como dizia São Francisco de Assis. Ela vem de forma natural e isso é o que deveria acontecer. Em estudos da Teratanatologia = Terapia para a compreensão saudável da morte, me interessa muito Rüdiger Dahlk, Alemanha, e Elisabeth Kübler-Ross (In memoriam), Suíça. Nos seus estudos e pesquisas científicas compreendemos que precisamos nos preparar para morrer como nos preparamos para fazer uma linda viagem a um continente distante.  
Parece paradoxal nos últimos dias do ano falar desse tema. É que nossa finitude não tem data marcada. Pode ser agora, amanhã, semana que vem ou daqui há 30 anos. Não importa quando. Importa que estejamos interiormente e emocionalmente saudáveis e preparados para dar o último suspiro em paz e com leveza de alma e de corpo. Se possível rodeados por muitas pessoas que amamos e que nos amam. Não tem sentido também envelhecer se arrastando, cheio de doenças e desgostosos da vida, sem flexibilidade psicológica e corpórea.  Mas quem de fato se prepara para envelhecer com saúde? São poucos, infelizmente. Libertar-se das tantas amarras, máscaras, pacotes inúteis, ilusões e vaidades já é um bom começo. 
A propósito do final do último ano da segunda década deste século, compartilho que fazer mil promessas não mudará o curso dos dias e nem a dinâmica da vida para mais ou para menos. Sendo assim encerro com uma frase de meu amigo de Stuttgart, Alemanha, Lac Lichtleben: “Eu não acredito em promessas para o ano novo. Acredito é em boas ações para todo o ano novo”. Feliz 2020! Se possível com muita positividade, flexibilidade e fé!

*Cyzo Assis Lima – Padre, Psicoterapeuta Clínico e Instrutor em Mindfulness