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Em caso de dor

Dor é algo que demanda ser sentido. 
Você pode ignorar e fingir aos outros que ela não está lá. Desviar e contar uma história feliz para você mesmo com fotos bonitas nas redes sociais. Você pode até engoli-la. 
Talvez demore semanas e décadas. Mas um dia, a dor aparece. 
Pode chegar como um câncer, já que você decidiu engolir ela. Uma dor digerida causa estragos imensuráveis dentro do corpo. Pode chegar como uma doença mental expondo verdades sobre você mesmo: depressão, ansiedade, insônia. Porém, geralmente, chega como lágrimas. 
Aparece de repente, ao ouvir uma canção no carro retornando para casa, ver uma obra de arte, meditar, abraçar um amigo ou simplesmente ao se olhar no espelho. E você chora, muitas vezes sem entender o porquê está chorando. São elas, as dores não sentidas como e quando deveriam. 
E o que fazer com a dor, então? Você pode pegar sua dor e devolver ao remente. Pode replicar e reproduzir. Pode descarrega-la nos outros. Se está doendo, alguém tem que pagar, não é? 
Ou você pode jogar numa tela de pintura ou um livro. Pegar a dor e correr com ela até não sentir mais as pernas. Usar ela para abrir um negócio. 
De qualquer forma, o que faz com a dor é uma decisão sua. 
Só espero que quando ela chegar, que seja corajoso para sentir. Deixe doer. Você não precisa ser forte o tempo todo. Nem sempre o mundo cuidará da sua dor. E por isso mesmo, é sua responsabilidade acolher ela. Ampare a dor e diga: tudo vai ficar bem. 
Não diga que vai passar. Isso seria mentira. Tem dores que simplesmente não passam. A dor da morte de um filho não passa. A dor da rejeição dos pais, de um amor interrompido, da injustiça e preconceito. Enfim, são inúmeras as dores perenes. Abrigue-as em seu coração mesmo assim.
No final, você aprende a viver com a dor. Não, ela não passa. Mas, ela pode mudar e se tornar outra coisa. Pode virar saudade.  Força. Fé. E até gratidão.
Em última e em mais alta instancia, você pode transmutar toda dor que sente em amor. Esse é o processo mais difícil. E ao mesmo tempo, onde reside sua cura e a evolução da humanidade. As dores não sentidas e não tratadas são as causas do caos que vivemos hoje. 
Então, na próxima vez que a dor bater na sua porta, deixe-a entrar e abrace-a. 
Apenas isso. 

Letícia Machado da Silva – Publicitária e Professora – San Roque/Espanha –  [email protected]