Falar de cinquenta e cinco anos de muita luta, trabalho, persistência, conquistas e disponibilidade é de muita responsabilidade. Reporto-me ao Sindicato dos Trabalhadores(as) Agricultores(as) Familiares de Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol e Herveiras, carinhosamente chamado de STR. Entidade esta fundada em 1º de julho de 1962, onde um grupo de agricultores com uma ampla visão e perante as necessidades do pequeno agricultor familiar da época, foram provocados e instigados pela Igreja Católica, Frente Agrária Gaúcha (FAG), e outros órgãos da sociedade.
Tais agricultores foram audazes em unir suas forças e ideais para juntos elaborar uma proposta grandiosa que deu certo e que vem cada vez mais se fortalecendo e constituindo junto à representação da categoria dos agricultores familiares rurais. Não podemos deixar de mencionar que todo este artifício iniciou-se em plena época de ditadura militar. Foram imensas lutas, que resultaram na criação e acesso às diversas políticas públicas e de direitos sociais aos agricultores familiares. Estas conquistas muitos de nós agricultores estamos usufruindo até os dias atuais.
Neste relato descrevo que, talvez a mais importante conquista adquirida, através das lutas foi acesso aos direitos previdenciários, pois até o ano de 1988 somente os homens tinham direito a se aposentar, porém com meio salário mínimo, até a data mencionada as mulheres agricultoras não detinham o direito a aposentadoria rural e outros benefícios previdenciários. Diante desta conjuntura homens e principalmente as mulheres, deixavam suas famílias, propriedades e demais atribuições e se dirigiam a Porto Alegre e Brasília, para manifestar suas indignações e principalmente se fazerem serem ouvidos, dias estes enfrentados com muito cansaço, chuva, frio e sol, mas a vontade de trazer uma boa notícia, compensava qualquer dificuldade.
Nestes 55 anos do STR, não podemos deixar de elencar alguns nomes que foram e serão referência para o fortalecimento e crescimento desta entidade. Alguns ícones, 44 sócios fundadores, desta trajetória ainda estão entre nós e foram homenageados no dia 1º de julho do corrente ano, outros já cumpriram esta importante missão e não estão mais aqui conosco. Recentemente perdemos um dos maiores sindicalistas da região e líder desta entidade, o Sr. Pedro Oswino Etges, que ocupou o cargo de diretor presidente por várias gestões, figura de personalidade firme, e de coração gigante, pois foi através de sua persistência que inspirou e traçou o caminho para outros jovens sindicalistas continuarem esta caminhada.
Diante desta nova era de movimento que a sociedade passa, o Sindicato também necessita estar conectado e evoluindo em suas atribuições, assim como na modernização agrícola, a chegada de novos cultivos, novas tecnologias e informatizações, na qual estas, passam e ser vistas como mais uma ferramenta instigadora para o auxílio da melhoria do dia a dia do agricultor. Perante o exposto, salientamos que a elaboração do novo estatuto da entidade realizado no ano de 2016, seja um grande avanço, pois através deste passa-se a ter um olhar diferenciado para as questões, étnicas, gênero e gerações almejando um olhar mais humanizado e inclusivo, pois devemos compreender todas as necessidades do agricultor, visando uma sociedade mais justa e igualitária.
Com estas transformações, percebeu-se que precisamos mudar a direção, e construir um novo modelo de gestão, pois precisamos estar cada vez mais próximos dos agricultores, levando e propiciando diversas ações entre elas; acesso à saúde, habitação, educação, formação, informação, capacitações de diversos cursos profissionalizantes, que venham ao encontro da realidade atual e necessidade dos agricultores e agricultoras familiares. Pois é através da inclusão e acesso ao conhecimento que se aprende a reaprender, a conhecer, a comunicar-se, a interagir e integrar o individual ao grupal. Nesta conjuntura de união, conseguimos mostrar nossa força nas grandes manifestações que realizamos contra a reforma da previdenciária rural, sendo uma delas realizadas no dia 21 de fevereiro do corrente ano no município de Santa Cruz do Sul, onde reunimos mais de 10.000 agricultores e agricultoras familiares.
Este ato só foi possível através do esforço de cada um, e que culminou em grandes avanços na garantia dos direitos previdenciários rurais. Os desafios são imensos, porém vontade de lutar e trabalhar não nós falta, pois acreditamos e temos a certeza que a profissão de agricultor(a) é tão nobre e importante como quaisquer outras. Pois é através do trabalho destes homens e mulheres que vem o alimento que é consumido diariamente por milhares de pessoas em todo o Brasil. Por fim, continuamos firmes nesta caminhada, pois como pequenos agricultores familiares temos que nós unir cada vez mais, para juntos somarmos forças. E que o Sindicato sempre seja um instrumento motivador, orientador, construtor, e que continue sendo referência e ferramenta de luta em todas as instâncias da vida do agricultor.
Portanto lembre-se, não fique só, fique sócio. Parabéns a todos os agricultores e agricultoras pelos seus 55 anos de Sindicato, pois são 660 meses e mais de 20.000 mil dias, construindo esta admirável história e que sigamos firmes rumo a um século de existência.
Renato Goerck
Agricultor e presidente do Sindicato dos Trabalhadores(as) Agricultores(as) Familiares Rurais de Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol e Herveiras
