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Trabalhador, não se deixe calar

Se, depois de todas as mentiras contadas pelo governo e de todos os novos escândalos de desvio de dinheiro público que vieram à tona nos últimos dias, for possível pedir algo aos trabalhadores, eu peço para que “não se calem”. Eu peço também para que sigam reagindo e se indignando com toda a desgraça que está espalhada pelo País afora. Eu peço que usem essa indignação como combustível para lutar e se mobilizar. O ativista político Martin Luther King Jr, que se tornou um dos mais importantes líderes do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos e também no mundo, com a campanha de não violência e de amor ao próximo, já costumava dizer que era o silêncio dos bons que o preocupava e não o grito dos maus.

Por isso, não se deixe calar, trabalhador. Não deixe que esse governo continue arrancando os seus direitos em benefício dos patrões, dos grandes grupos econômicos e dos banqueiros. Não deixe que esse governo continue usando a sua força de trabalho sem te oferecer nenhuma contrapartida, como Saúde, Educação, Segurança e Transporte de qualidade. Não deixe que esses políticos, tanto do Congresso quanto do Senado, sem moral alguma para ocupar o cargo que ocupam, sigam dirigindo as rédeas do Brasil. Não deixe para revidar somente na hora do voto, pois não serão nas urnas que vamos resolver os nossos problemas. Já percebemos que eleições não são a solução porque é o mesmo que “trocar o sujo pelo mal lavado”. Entrou e saiu Lula, entrou e saiu Dilma, entrou Temer e o que mudou? Nada. E nada irá mudar porque nenhum desses políticos está comprometido com os interesses dos trabalhadores. Todos estão preocupados em manter os seus privilégios e, para tanto, fazem acordos bilionários com empreiteiras e banqueiros a fim de garantir dinheiro que irão financiar suas campanhas.

Em troca disso, largam nas nossas costas uma conta alta – ora disfarçada com o nome de Reforma Trabalhista e Reforma da Previdência, ora maquiada pelo termo Terceirização (e que na verdade representa a precarização das relações de trabalho), ora ainda chamada por Dívida Pública (um dos maiores esquemas de desvio de dinheiro público legalizado no País). Para quitar os débitos que têm com seus financiadores, os políticos sacrificam o trabalhador e tiram não só o seu suor, mas a sua dignidade e os seus sonhos. Tiram de diversos pais de família, que, em muitos casos, têm apenas um salário mínimo miserável, a oportunidade de oferecer um futuro melhor aos seus filhos. Tiram esses pais do convívio de sua família porque eles são obrigados a trabalhar até nos fins de semana para dar lucro ao patrão. Tiram desses pais o direito de envelhecer junto aos filhos porque não tiveram acesso a um serviço de saúde de qualidade e a doença lhes abreviou a vida. Tiram desses pais a liberdade de conviver harmoniosamente sem muros ou grades ao redor de suas casas porque os recursos que deveriam ser investidos na Segurança são desviados e a desigualdade gera a marginalidade. 

E não cessa nisso. Para seguir manipulando os trabalhadores e mantendo-os na ignorância, na cegueira, na apatia, o governo agora atua para enfraquecer os Sindicatos, responsáveis por sua organização e por defender os seus direitos. Uma das tentativas é acabar com a obrigatoriedade da contribuição sindical, cujo valor corresponde a um dia de trabalho por ano, e que todo trabalhador com carteira assinada, mesmo que não seja filiado a nenhuma entidade sindical precisa reverter para o sindicato de sua respectiva categoria. O fim do imposto sindical já foi aprovado em assembleia geral pelos Comerciários de Santa Cruz do Sul e região, com total aval da direção do Sindicato, que entende que um “sindicato forte é aquele que luta por sua categoria” e defende um sindicato livre e autônomo, sem qualquer intromissão do Estado. Para colocar seu plano em prática, o governo joga na mídia a ideia de que os sindicatos só estão chamando os trabalhadores para lutar porque estão interessados no imposto sindical. Essa nunca foi a motivação dos Comerciários. O Sindicato sempre organizou os trabalhadores para as mais diversas lutas – contra a privatização da água, contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, etc. – porque acredita que só assim se pode mudar o rumo do País. De fato, só assim poderemos acabar com esse sistema (o capitalismo) que nos oprime, nos suga, nos retira direitos. 

Então, trabalhador, eu peço para que “não se cale”. Eu peço que tu aproveites e vá para a rua e ajude a construir as lutas, como foi a Ocupação de Brasília ocorrida nesse 24 de maio. Manter-se calado, omisso a tudo, apático ao que acontece ao teu redor, é ser conivente com toda a desgraça que está acontecendo. É aceitar que bilhões continuem sendo desviados para bancar o privilégio de uma meia dúzia de políticos e grandes empresários. É aceitar que o recurso para a merenda do seu filho, para a reforma da escola do seu bairro, para melhorar o aparato da Polícia, para o remédio que poderia ser fornecido a um doente, para investir no transporte público, enfim, seja roubado. O cidadão de bem, que trabalha duro para manter a riqueza desse País, não pode se calar, não pode permitir que lhe coloquem mordaça, seja através da chantagem de desemprego por parte do patrão, seja pela constante ameaça de “crise”. 

A crise que vivemos é de descrença, de falta de ética, de falta de humanidade por parte daqueles que deveriam nos defender, mas que preferem olhar apenas para o seu umbigo e a sua conta bancária sem se importar se o seu semelhante está passando fome. Não te cala, trabalhador. Tu és livre, tu és quem levanta esse País. Reaja. Lute, se organize e vá para a rua. Retome sua dignidade. A luta nos engrandece. 

Cláudia Priebe – Jornalista
Assessora de Imprensa do Sindicato dos Comerciários e Região e militante do Movimento Mulheres em Luta (MML) de Santa Cruz do Sul