Suilan Conrado
[email protected]
Muitas pessoas que transitam diariamente pelas imediações da Galeria Green Center de Santa Cruz do Sul, nem imaginam o que se esconde por lá. Localizada ao fim do corredor, a pequena livraria se destaca: livros, revistas e gibis de diversos gêneros e épocas colorem a vitrine e exibem seus preços, muito acessíveis, diga-se de passagem.
A Sebum, é uma loja de usados, conhecida também por ‘segunda mão’. Instalada desde meados de 1997 em uma das galerias mais antigas da cidade, a livraria trabalha com troca, venda, compra e consignação de obras literárias.
Rolf Steinhaus
O Sebum é um lugar encantador. Livros, revistas e gibis usados dividem as prateleiras da livraria, que há anos seduz os amantes das boas histórias
Tendência nas grandes cidades, dispor de um espaço cultural como esse em Santa Cruz, é um privilégio que Suelen, de 19 anos, soube aproveitar muito bem. “Eu gosto do cheiro dos livros, de ver as belas dedicatórias que constam em alguns e imaginar porque foram parar onde estão”, comenta a estudante de Ciências Contábeis, que passou a frequentar o sebo a mando do pai e hoje é freguesa assídua.
Rolf Steinhaus
Quem visitar a livraria de usados, vai se deparar com livros e revistas de todas as espécies a um preço acessível
Clássicos da literatura brasileira, livros espíritas, de auto-ajuda, culinária, filosofia, religião, romances, contos e poesias povoam as prateleiras, enquanto outros tantos ficam empilhados pelos cantos, formando pilhas, à espera de um leitor curioso e paciente, que esteja disposto a gastar um pouco de tempo para caçar histórias e alguns trocados para viajar com elas.
Rolf Steinhaus
Além dos livros, revistas e gibis, discos antigos também podem ser encontrados na Sebum
“A TIA DOS LIVROS”
Sueli Nascimento trabalhou a vida toda na área das Ciências Contábeis. Quando se aposentou, há tantos anos atrás, não se adaptou com a rotina doméstica. Precisava voltar ao trabalho, sentir-se útil.Foi quando o marido de Sueli, Antonio Nascimento, teve a brilhante ideia.
Acostumado a avistar sebos durante suas andanças pelo Brasil afora, o advogado propôs à esposa que abrissem uma livraria em Santa Cruz do Sul. E vai que dá certo? Os mais de 15 anos de portas abertas garantem que deu.
Apaixonada pelos livros desde sempre, Sueli passou a adorá-los ainda mais depois de experimentar a convivência diária com aquelas capas, cheiros, cores e letras. Para ela, cada exemplar é uma viagem, e possui uma história que vale a pena ser lida.
“Todos os dias aprendo alguma coisa. Gosto de fazer palavras cruzadas, e muitas vezes, tiro as respostas dos livros que li”, conta a proprietária.
Rolf Steinhaus
Sueli: “É prazeroso ver alguém sentado no chão, vasculhando pilhas, procurando novos gibis para ler, livros para levar”
Há mais que histórias dentro dos livros. Sueli revela que frequentemente encontra cartas, bilhetes e até mesmo fotos dentre as páginas. “As pessoas vêm vender seus exemplares antigos e esquecem que haviam guardado esse tipo de coisa ali dentro”.
Sueli afirma que os fregueses da Sebum são pessoas das mais diversas cores e credos, dos 8 aos 80 anos, e que descobrem a livraria pelo “boca a boca”, já que a aposentada não investe em publicidade, por conta do alto custo.
Das obras mais procuradas, estão os grandes clássicos da literatura brasileira, bem como a autora Zíbia Gasparetto e Paulo Coelho. Kafka, Nietzsche e Tolstoi são figuras igualmente muito buscadas pelos leitores, o que os torna preciosidades difíceis de encontrar.
A “tia dos livros”, como é conhecida Sueli, declara que é muito gratificante e até mesmo um privilégio o seu trabalho. “As pessoas pedem minha ajuda, eu indico livros, faço amizades, ouço e conto causos. É prazeroso ver alguém sentado no chão, vasculhando pilhas, procurando novos gibis para ler, livros para levar”, manifesta.
Certamente o Sebum é um cantinho especial, quase secreto, situado no fundo de uma galeria central da cidade, à espera de velhos e novos leitores, ávidos por cultura, seja ela de primeira, ou “segunda mão”.
CURIOSIDADE: Por que livrarias de usados são denominadas SEBO?
Existem algumas versões a respeito da origem do termo sebo. Uma delas diz que no tempo em que não havia luz elétrica as pessoas liam à luz de velas. As velas, naquele tempo, eram feitas de gordura, de sebo. Conforme iam derretendo, acabavam sujando os livros, que ficavam engordurados. Outros dizem que os estudantes e leitores vorazes por irem a todos os lugares com um livro embaixo do braço acabavam por torná-lo sujo, ensebado. Por isso, os alfarrabistas, vendedores de livros velhos, ficaram conhecidos no Brasil como caga-sebos, e com o tempo a livraria que negocia usados ganhou o nome de sebo, que não era lá muito elogioso. Dizem que um livreiro de Pernambuco foi o primeiro a assumir esse nome e colocá-lo na porta de entrada da sua livraria, nos anos 50.
Rolf Steinhaus
A livraria está localizada no fim do corredor da Galeria Green Center, no centro de Santa Cruz do Sul
Livraria Sebum
Endereço: Rua Júlio de Castilhos, 495, Centro – Galeria Green Center, Sala 20 – Santa Cruz do Sul
Telefone: (51) 3715-8281
Atendimento:
De segunda a sexta-feira, das 12h30min às 18h
Sábados: das 8h às 12h