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Santa Maria registra a 2ª maior tragédia por incêndio na história do Brasil

EVERSON BOECK
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Depois de mais de 50 anos, quando em 1961 o Gran Circus Norte-Americano pegou fogo em Niterói, no Rio de Janeiro, e 503 pessoas morreram, Santa Maria terá agora marcada em sua história a segunda maior tragédia por incêndio do Brasil. Na noite de sábado pelo menos 231 pessoas morreram em um incêndio na Boate Kiss, no centro da cidade. Estima-se que 101 dos mortos eram alunos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com base em lista anterior divulgada pelo governo estadual. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) já divulgou os nomes de 231 vítimas. A festa na Boate Kiss era promovida por acadêmicos de agronomia, medicina veterinária, tecnologia de alimentos, zootecnia, tecnologia em agronegócio e pedagogia. O objetivo era arrecadar fundos para a festa de formatura.

O QUE PODE TER ACONTECIDO

O guitarrista Rodrigo Lemos Martins, da banda Gurizada Fandangueira, que fazia o show na hora do incêndio, disse à imprensa que o fogo começou depois que o sinaleiro (uma espécie de fogo de artifício chamado “sputnik”) foi aceso, por volta das 2h. Nas redes sociais e os próprios integrantes do grupo garantem que é de praxe a utilização deste material durante as apresentações. Rodrigo afirma que um segurança da casa e o vocalista da banda tentaram apagar o incêndio, mas que o extintor não teria funcionado.
Segundo testemunhas, sem saber o que acontecia, seguranças na porta da boate pensaram, inicialmente, que o tumulto havia sido causado por uma briga e barraram as pessoas para que elas não deixassem o local sem pagar a conta. Enquanto isso, outros funcionários tentavam combater as chamas no interior da boate. O fogo se espalhou rapidamente ao entrar em contato com a espuma de isolamento acústico no teto, resultando numa fumaça tóxica. Muitas pessoas saíram correndo para os banheiros, provavelmente imaginando que era a saída, mas ficaram encurralados.
Não está descartada a ideia de uma sucessão de erros de gerenciamento. Além de o local possuir apenas uma porta para entrada e saída de pessoas, a empresa estaria com o alvará do Corpo de Bombeiros vencido. A Polícia investiga se havia sinalização adequada indicando a saída do local. Segundo especialistas, a lição que fica deste terrível episódio é que é preciso cultivar uma cultura de prevenção a grandes incêndios no país.

Agência Brasil/Wilson Dias

Amigos e parentes lotam Centro Desportivo Municipal onde foram
identificados corpos das vítimas do incêndio e aconteceu o velório coletivo

NOTA DA DIOCESE

O povo católico da Diocese de Santa Cruz do Sul está profundamente comovido com as notícias que começaram a circular desde as primeiras horas da manhã deste domingo, dando conta de uma grande tragédia numa casa de shows da vizinha cidade de Santa Maria, que resultou na morte de mais de duas centenas de jovens e outros tantos feridos. Entre as vítimas se encontram, possivelmente, jovens da região da Diocese de Santa Cruz do Sul, uma vez que são muitos os estudantes da região que estudam na Universidade Federal de Santa Maria. Na nota, o bispo Dom Canísio Klaus, disse “sensibilizados com o ocorrido, manifestamos a nossa solidariedade às famílias atingidas pela tragédia”.

SANTA-CRUZENSE ESTAVA NO EVENTO

A estudante do Curso de Medicina da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Julia Cristofali Saul, faleceu na tragédia de Santa Maria. Ela era natural de Jaguarão e era sobrinha do prefeito da cidade, João Mári Cristofali. Também estava presente na boate o santa-cruzense Mateus Rafael Raschen, de 20 anos. Mateus é filho do vice-diretor do Colégio Mauá, Nestor Raschen.
Em entrevista ontem pela manhã, Nestor disse que o filho estava sedado na UTI do Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre. Segundo o pai do jovem, o rapaz teve queimaduras de 2° grau no corpo, mas a preocupação maior é com as vias aéreas, pois Matheus inalou a fumaça do incêndio.
O jovem é conhecido em Santa Cruz do Sul pela carreira dentro do basquete e atualmente participa da Liga Noroeste. Ele é estudante do quarto semestre de Tecnologia em Alimentos da UFSM, Matheus.

UFSM SUSPENDE ATIVIDADES

A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) informou, ontem, que as atividades acadêmicas ficarão suspensas até 1º de fevereiro em razão da tragédia que matou pelo menos 231 pessoas em uma boate da cidade. A instituição confirmou que, entre as vítimas, 101 eram estudantes universitários.
“Frente à dimensão da tragédia ocorrida, a qual calou profundamente na comunidade universitária, a reitoria da Universidade Federal de Santa Maria estenderá a suspensão das atividades acadêmicas da instituição anteriormente anunciada, de modo a propiciar um período de reflexão e atividades voltadas ao amparo e à solidariedade às famílias tão duramente atingidas”, informou a Universidade.

SOLIDARIEDADE DO POVO BRASILEIRO

O País tem demonstrado solidariedade às famílias das vítimas do incêndio, especialmente em Santa Maria. Na rede social Facebook, um grupo de voluntários criou a página Somos Santa Maria que, até a tarde de ontem, contabilizava mais de 400 vagas para acomodação de parentes das vítimas e mais de mil leitos disponibilizados na capital gaúcha Porto Alegre, que fica a 286 quilômetros de Santa Maria.
Mais informações podem ser encontradas no endereço http://www.facebook.com/somossantamaria.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou na manhã de ontem, 28, em Porto Alegre, que solicitou ajuda a hospitais brasileiros e estrangeiros para a possibilidade de reforço na assistência aos queimados graves no incêndio da Boate Kiss. Padilha informou, também, que já entrou em contato com países como Argentina, Peru e Uruguai para possível aumento nos estoques dos bancos de pele do Brasil, inclusive para a necessidade de transplante deste tipo de órgão. O anúncio foi feito no Hospital Cristo Redentor (do Grupo Hospitalar Conceição, que compõe a rede federal de hospitais), onde o ministro visitou pacientes que apresentam um quadro mais grave de intoxicação e queimaduras e, por isso, foram transferidos para esta unidade, que é referência na assistência a queimados pelo Sistema Único de Saúde.

Agência Brasil/Wilson Dias

Comunidade também ajudou disponibilizando água e alimentos no ginásio
onde estavam as famílias das vítimas