EVERSON BOECK
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Plateia cheia e interessada foi um dos resultados obtidos no qualificado encontro promovido pela ONG Desafios na noite de quinta-feira, 27, na Câmara Municipal de Vereadores. O evento, que trouxe o tema “E na hora de votar eu sou igual?”, teve como objetivo fazer um chamamento aos candidatos à majoritária de Santa Cruz do Sul e inserir a temática LGBT nas políticas públicas locais. Representando a coligação Todos por Uma Santa Cruz Melhor, a candidata a vice-prefeita Helena Hermany (PP), e a candidata à reeleição representando a coligação A Força do Povo, prefeita Kelly Moraes (PTB), se comprometeram em apoiar os projetos apresentados pela Desafios durante o próximo governo. O candidato Silvério Stölben (PSTU) não compareceu. O Encontro contou, ainda, com a participação de candidatos ao legislativo municipal, alunos de escolas públicas, ativistas gays de várias cidades do RS, entidades locais e a ONG Desobedeça, de Porto Alegre.
O presidente da ONG Desafios, Ruben Quintana, avalia que, com o resultado do evento, a entidade mais uma vez cumpre seu papel. “A ONG existe há mais de um ano e novamente executou sua missão ao promover um debate com a sociedade e pautar a temática LGBT no meio político de Santa Cruz do Sul”, comemora.
Quintana explica que a campanha “E na hora de votar eu sou igual?” já atinge a esfera estadual. “Estamos participando de diversas paradas gays pelo Estado e levando a campanha”, informa. Prova deste efeito é a participação no evento da ONG Desobedeça, de Porto Alegre, e de representantes da Secretaria Estadual da Justiça e dos Direitos Humanos, através da Coordenadoria Estadual de Diversidade Sexual. “A conotação política do nosso 2° Encontro vem em momento oportuno, quando muitos candidatos usam a bandeira gay para atrair eleitores. Só dizer que são a favor e apoiar o público LGBT não é suficiente. Queremos saber o que, eles na prática, têm para nos oferecer em projetos de lei. Por isso estamos fazendo este chamamento e abrindo espaço no evento. Se na hora de votar somos iguais, não podemos ser tratados diferente depois das eleições!”, desafia.
CAPACITAÇÃO – RIO GRANDE SEM HOMOFOBIA
Em seu pronunciamento, Fábulo Nascimento, coordenador de Diversidade Sexual, da Secretaria Estadual da Justiça e dos Direitos Humanos, anunciou uma parceria com a ONG Desafios para a realização, em dezembro deste ano, de uma capacitação para gestores da rede pública, tanto da rede estadual quanto municipal. Trata-se de um seminário chamado “Rio Grande sem Homofobia” que já acontece em diversas cidades do Estado e visa qualificar servidores públicos. “Nesta etapa, a capacitação tem como prioridade os profissionais das áreas da Saúde, Segurança e Educação, mas isso não impede que outras áreas sejam abrangidas”, explica Nascimento.
Conforme o coordenador, a expectativa é que a qualificação seja oferecida para aproximadamente 200 profissionais. “Contamos com a mobilização da Desafios e seus parceiros para realização deste seminário que vem ao encontro do momento que Santa Cruz do Sul vive. Será muito positivo para a comunidade como um todo”, acredita. O projeto é uma parceria do Governo do Estado, através da Secretaria, com a Universidade de Cruz Alta e a Fundação de Recursos Humanos.
PALESTRAS
A psicóloga clínica, Alba Regina Zacharias, que também é Especialista em Relações Familiares, Mestre em Políticas Públicas e professora de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade Dom Alberto abordou o tema “As mães sempre sabem?”. Para ela, a figura da mãe é a que mais aparece e a mais importante na relação entre pais e filhos. “Uma mãe que rejeita e uma mãe que apoia é decisiva no caminho do homossexual que se assume”, analisa.
Jéssica Daminelli Eugênio, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Estado, Direito e Sociedade, da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), com ênfase em direitos humanos e diversidade sexual, e acadêmica do curso de Direito na Unesc, falou sobre “Políticas Públicas LGBT”. A palestrante esclareceu sobre as políticas públicas atuais e pontuou outras questões. “Precisamos ter claro como pressionar os candidatos às eleições, principalmente os que usam a bandeira gay, e o que devemos analisar antes de votar”, alerta.
O ativista LGBT, Roberto Seitenfus, estudante de Direito, coordenador da ONG Desobedeça em Porto Alegre, integrante da Comissão Especial da Diversidade Sexual da OAB-RS, explanou sobre o tema “Estatuto da Diversidade Sexual”. De acordo com Seitenfus, a discussão sobre o projeto é importante para que a sociedade entenda e participe deste processo. “Estamos visitando municípios e apresentando o projeto, que vai muito além da criminalização da homofobia trabalhando em questões estruturais e culturais da sociedade. Com isso, objetivamos arrecadar em um abaixo-assinado um milhão e quatrocentas mil assinaturas para que o projeto seja implementado como iniciativa popular e, dessa forma, não terá como ser arquivado”, ressalta.
CANDIDATOS SE COMPROMETEM
No espaço reservado para que os candidatos às eleições fizessem uma apresentação de suas plataformas de governo dentro das políticas LGBT, participaram a candidata a vice-prefeita, Helena Hermany (PP), e a secretária Marla Hansen (PTB) representando a candidata à reeleição, prefeita de Santa Cruz do Sul, Kelly Moraes (PTB) (que esteve presente no início do evento e depois precisou se ausentar).
Helena lembrou do projeto de lei que criou enquanto foi vereadora e presidente da comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de Vereadores, nos anos de 2002 e 2003, referente à cota de negros nas empresas. Segundo ela, todo estabelecimento que tivesse um número “x” de negros teria incentivos por parte da Prefeitura. “Foi uma forma de inserir esta população em muitas empresas. Lembro que, na época, quase não se via negros trabalhando no comércio. É um exemplo que pode ser usado como norte para a criação de outros projetos neste sentido voltados para o público LGBT”, considera.
Marla destacou que a causa não é momentânea e salientou a presença de representantes do governo atual nas ações da ONG. “Conhecemos o trabalho da Desafios e não é de hoje, isso comprova nosso engajamento com o tema, assim como nosso respeito com este público”, frisa. Além disso, ela repetiu as palavras da prefeita Kelly ao iniciar o evento. “Reafirmo o que disse a prefeita antes de se ausentar: vamos estimular a realização de projetos e de leis através da criação de uma coordenadoria municipal que dará mais visibilidade para a entidade e mais apoio às suas iniciativas”, acrescenta.
Ambas também garantiram que levarão todas as demandas para suas respectivas coligações e que durante a próxima administração o assunto estará na pauta dos projetos e ações de governo.
ROLF STEINHAUS
Evento aconteceu na noite de quinta-feira, 27, na Câmara Municipal de
Vereadores e contou com a participação de políticos de Santa Cruz e
ativistas LGBT de vários locais do Estado
LUIZA FREITAS
O Encontro teve como objetivo incluir a temática LGBT nas políticas
públicas locais
ROLF STEINHAUS
Quintana (D): “novamente a ONG cumpre sua missão ao promover um
debate com a sociedade”